Dois astronautas no espaço, em uma missão, tentam sobreviver após uma grande explosão. Este é o resumo do longa-metragem “Gravidade” (“Gravity”), de Alfonso Cuarón (“E Sua Mãe Também”), que estreia nesta sexta-feira, 11, nos cinemas.
Os personagens são apenas dois, durante 90 minutos de projeção: o veterano Matt Kowalski (George Clooney), na véspera de sua aposentadoria, e Ryan Stone (Sandra Bullock), uma engenheira em sua primeira missão espacial.
No início, depois de legendas situarem o espectador sobre problemas com gravidade e oxigênio, ouvem-se diálogos dos dois com Houston (inclusive a célebre citação em tom de piada: “Houston We have a problem”). O astronauta também tenta distrair a estreante com sua conversa fiada. Ele revela que, quando chegar à Terra, já que está em sua última missão, sentirá falta do pôr do sol e de toda a paisagem que tem à sua frente.
O silêncio sepulcral do espaço é um dos itens que ela sentirá falta, quando chegar em casa. Esse silêncio, aliás, já que o som não se propaga no espaço, é explorado ao extremo pelo diretor e usado em momentos cruciais, fato que envolve cada vez mais o espectador no drama.
A tal engenheira, porém, não tem a menor vontade de voltar para casa, pois não há ninguém a esperando. A filha de Stone morreu há pouco tempo e ela ainda está deprimida.
No meio desse papo furado todo, belas imagens e um balé coreografado com maestria desfilam na tela. Hora de aproveitar para se divertir com a dança em tela gigante e em 3D. Muitas dessas cenas, aliás, remetem ao longa-metragem de animação da Pixar, Wall-E, de autoria de Andrew Stanton. Outro filme homenageado é 2001 – Uma Odisseia no Espaço, de Stanley Kubrick, cineasta que acaba de ganhar uma exposição no Museu da Imagem e do Som (MIS), em São Paulo.
Os recursos tecnológicos são usados em favor do diretor mexicano, que escreveu o roteiro ao lado do filho Jonás Cuarón. O espectador também tem à disposição a versão em 4D do filme, que inclui movimento da poltrona. Cuidado, pois, como a trama se passa no espaço, o balanço pode ser excessivo para os mais sensíveis.
A pieguice no roteiro, porém, está nos clichês. A tal astronauta, que já perdeu a filha, passa por uma série de outros problemas que precisa resolver, como a falta de oxigênio em pleno espaço, a falta de combustível quando ela encontra a nave que vai levá-la de volta para casa, o desprendimento do companheiro.
Especialistas em astronomia podem levantar questões técnicas que não foram levadas em consideração pelo diretor (como o cabelo curto da atriz que não flutua), mas, no geral, a percepção é bastante realista – ao menos para a plateia leiga.
Sandra Bullock, vencedora do Oscar de Melhor Atriz por Um Sonho Possível, em 2010, esbanja talento em demonstrar a emoção à plateia, tensão e sufocamento, já que apenas o seu rosto está à mostra –o resto do corpo está coberto pela roupa de astronauta.
George Clooney é coadjuvante, mas cumpre o seu papel. Distrai a personagem em pânico, tem bom humor e mostra a ela e ao espectador as belezas de estar no espaço, de ver o planeta Terra de um ângulo que não vemos. É ele quem ressalta o pôr do sol visto dali.
Gravidade vai além de belas imagens e do desafio de mostrar como funciona uma tripulação que vive no espaço, com todos os problemas de gravidade, a saudade de casa e os riscos que os profissionais correm. A fita discute ainda o renascimento da personagem, deprimida por não ter motivos para voltar para casa.
Em um insight, enquanto está à deriva e provavelmente após ficar sem oxigênio e apenas respirando CO2, a astronauta toma uma atitude e decide que precisa chegar em casa. É quando outras belas imagens a retratam como se estivesse no útero da mãe e, depois de cair na água, renasce e alcança a areia da praia. Uma das sequências memoráveis da fita.
Gravidade foi aplaudido de pé no Festival de Veneza este ano e liderou a bilheteria americana na ocasião de seu lançamento.
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Publicado originalmente no site da GQ.