Muito se falou sobre o 11 de Setembro no cinema, desde que terroristas colidiram dois aviões no World Trade Center, em Nova York, em 2001. Já se falou do ponto de vista de quem estava no avião (“Voo 93”), dos que socorreram as vítimas (“As Torres Gêmeas”), além do ponto de vista de quem estava na guerra (“Guerra ao Terror”), e por aí afora. Agora, chegou a vez de contar uma história sob o prisma de um garoto, filho de uma das vítimas da tragédia.
Até que se saiba que o longa-metragem “Tão Forte e Tão Perto” (“Extremely Loud & Incredibly Close”) vai tratar sobre o fatídico 11 de Setembro, porém, o espectador vai comprando a ideia que trata-se de um drama familiar, já que o garoto só fala sobre “o pior dia” e não há uma contextualização para situar a plateia. Isso porque a fita, baseada no best-seller de Jonathan Safran Foer (“Extremamente Alto e Incrivelmente Perto”), conta a história de Oskar (o estreante Thomas Chifre), um garoto de 11 anos, que vai iniciar uma maratona de buscas a fim de encontrar o que uma chave, descoberta nas coisas do seu pai (Tom Hanks), é capaz de abrir.
Tal como fazia com o pai, o garoto, considerado inteligente e com comportamentos excêntricos e obsessivos que pode beirar o autismo, segue as pistas que acha certas para chegar ao ponto final. Faz isso para superar a perda do pai, se sentir perto dele ou, de alguma maneira, voltar no tempo. Segue pistas tal como fazia em vida e os dois brincavam, sem levar nada a sério. Além de enfrentar os seus medos, o garoto vai exorcizar as suas neuroses, descontando todos os problemas na busca incessante.
Ao seu lado, uma companhia, o locatário (Max Von Sydow, de “A Ilha do Medo”) de um dos quartos de sua avó. Mas o senhor em questão tem um problema: não fala e se comunica apenas através de um bloquinho de anotações, no qual vai escrevendo o que quer dizer. Os dois vão se entendendo, passeando por todos os cantos de Nova York, e visitando algumas das 472 pessoas que possuem o sobrenome Black, uma das pistas encontradas junto com a tal chave. Pragmático e metódico, o garoto sabe, matematicamente, que vai levar três anos para terminar.
A saga dos dois é encantadora, uma forma que o diretor Stephen Daldry (“Billy Elliot”, “O Leitor”) encontrou de contar histórias de outras pessoas e também de emocionar o espectador, ainda que de forma manipuladora.
Por sentir falta do pai, o garoto maltrata a mãe (Sandra Bullock, de “Um Sonho Possível”). Chega a dizer que preferia que ela tivesse morrido no lugar dele, ainda que desminta logo em seguida. Sandra, aliás, não tem a mesma performance que em longas anteriores, como o que lhe deu o Oscar de Melhor Atriz, em 2010.
O garoto, ao contrário, convence o tempo todo. O filme é ágil, tal como a batida do pandeiro que Oskar carrega pra cima e pra baixo. E sua obsessão não para. Ouve, incansavelmente, as gravações que o pai deixou no “pior dia”.
Com roteiro de Eric Roth (“Forrest Gump: O Contador de Histórias”, “O Informante”), “Tão Forte e Tão Perto” é um filme que emociona e trata a tragédia de uma maneira diferente. O 11 de Setembro é uma data que ainda não foi totalmente digerida pelos norte-americanos. Talvez nunca será. A manipulação no filme irrita um pouco, é verdade, mas é uma história bem contada, ainda que se valha de narrações em off no início, maneira que acaba cansando o espectador a certa altura.