Nos anos 1960, as mulheres queriam mais e lutaram pela igualdade perante aos homens. Vestiram seus terninhos e tailleurs e foram ganhar o mercado de trabalho. Com sucesso, não têm do que reclamar. Cumprem, desde então, jornada dupla: uma dentro de casa, para atender ao marido e aos filhos, e outra fora.

No entanto, com as disputas por querer as melhores colocações, mostrar que sabem e podem fazer tão bem ou até mesmo melhor que os homens, independentemente da profissão escolhida, em um dado momento a vida cobra e, dependendo da ausência da mulher com viagens, reuniões fora do horário de expediente, e também da idade dos filhos, a conta não fecha.

Para mostrar justamente esta jornada dupla e a vida de equilibrista que leva, a atriz Sarah Jessica Parker, que também é mãe e precisa conciliar o trabalho com a maternidade, é Kate, no longa-metragem “Não Sei Como Ela Consegue” (“I Don’t Know How She Does It”).

A protagonista é uma típica mulher moderna: trabalha fora, educa dois filhos (e é cobrada pela menina mais velha), cuida do marido (Greg Kinnear, de “Pequena Miss Sunshine”). Porém, um novo desafio a espera. É quando um novo colega de trabalho, Jack (Pierce Brosman, de “007”, “Mamma Mia!”), aparece e ela precisa mostrar que pode dar conta de tudo e mais um pouco.

Com direção de Douglas McGrath, a fita vai contando a trajetória da nossa heroína e, ao mesmo tempo, apresentando depoimentos de outras mães que julgam o comportamento da trabalhadora, afirmando que ela não dá a atenção necessária aos filhos, não sabe fazer uma torta, nem organizar uma festinha de aniversário.

Além das mães das outras crianças, o espectador acompanha histórias paralelas de duas mulheres próximas a Kate: sua assistente, que jamais pensa em ter filhos; e sua amiga, que corrobora com suas afirmações sobre a maternidade.

Enquanto Kate trabalha, enfrenta a dupla jornada e briga com o marido porque precisa se ausentar duas vezes por semana por motivo de viagens, as outras mães não saem da academia e vivem fazendo intrigas e fofocas, ou seja, uma imagem deturpada do que acontece na vida real, ainda que seja um rótulo exagerado.

A questão é: se a mãe trabalha, não dá atenção aos filhos; mas se não trabalha, só pensa em futilidades. O espectador sabe que as coisas não são bem assim, mas são detalhes passíveis de relevância, já que a ideia do longa é mostrar a mulher-esposa-mãe de maneira caricata.

Estrela da série “Sex and the City”, na qual vive uma solteirona na casa dos 30 anos e atrás do príncipe encantado, mas sem abrir mão dos prazeres da vida, Sarah Jessica Parker leva o mesmo estilo para a telona mais uma vez.

Desfila roupas e sapatos deslumbrantes, tal como costumava fazer nas seis temporadas do seriado, ainda que aqui o figurino seja voltado para uma executiva. E, como a narrativa se passa em Nova York (ainda que o livro da jornalista do País de Gales, Allison Pearson, no qual o filme foi inspirado, tenha Londres como cenário), Sarah está à vontade nas ruas da cidade.

Com roteiro previsível, “Não Sei Como Ela Consegue” traz um marido apático, que não abre a boca pra nada, nem para dividir as alegrias e as mazelas da vida. E isso, caro leitor, são coisas que sabemos que não existem. Aos trancos e barrancos, a fita se desenrola com diálogos bobos, mensagens na tela como se fossem SMS, a mania da personagem em fazer listas, além de Sarah dizendo diretamente ao espectador, quando declara-se para a câmera, assim como os depoimentos pedantes das outras mães.

Para que o filme não termine totalmente apático, após 90 minutos de projeção, a trilha sonora brinda a plateia com Nat King Cole.