Primeiro longa-metragem da Pixar (estúdio responsável por “Procurando Nemo”, por exemplo) a ser lançando em 3-D, ou seja, cuja exibição exige que a plateia utilize óculos especiais, “Up – Altas Aventuras” (“Up”) foi apresentado pela primeira vez na abertura do Festival de Cannes, em maio deste ano.
A animação em longa-metragem que estreia nesta sexta, 4, conta a história de Carl Fredricksen (dublado em português por Chico Anysio), um vendedor de balões de 78 anos que começa a lutar contra os investidores por conta da casa onde sempre morou. Isso porque eles querem comprá-la para construir mais um edifício no local.
Contudo, Carl é sentimental demais para ceder à pressão do capitalismo. A casa que conserva foi cenário do ninho de amor que construiu ao lado de Ellie, sua paixão desde a adolescência, pessoa com quem compartilhava os sonhos de aventura de um dia, enfim, conhecer as Cachoeiras do Paraíso, na América do Sul.
Tal como a animação “Wall-E” (lançada em 2008), que pode ser classificada também como ficção científica e comédia romântica, a trama de “Up – Altas Aventuras” começa como romance, mas logo após a primeira parte vira drama. É quando Ellie adoece e morre, deixando Carl desolado, mas ao mesmo tempo com forças para colocar em prática o seu sonho de voar.
A partir de então, o longa-metragem de animação criado por Pete Docter (o mesmo de “Monstros S.A.”) passa a ser uma aventura liderada pelo velho, que resolve o problema de tirar a sua casa do terreno cobiçado pelos investidores ao amarrar milhares de bexigas nela e fazê-la flutuar, tal como se estivesse, de fato, dentro de um balão.
Pouco antes de ele ter essa brilhante ideia, porém, bate à sua porta um menino de oito anos, Russell, que se diz explorador da natureza e, portanto, quer ajudar o idoso a atravessar a rua, cortar a grama do seu jardim, o que for, a fim de ganhar mais um distintivo em seu colete. A maior descoberta de Carl é que, assim que a casa parte para os ares, alguém bate novamente à sua porta e pede para entrar.
Embora ele seja ranzinza e reclamão (os trejeitos e os sons que emite em protesto, aliás, lembram os mesmos resmungos de Clint Eastwood, em “Gran Torino”), e prossiga vivendo de lembranças, já que Ellie continua presente – nas fotos colocadas nas paredes e nas estantes da casa, no caderno onde escreve desde criança as suas aventuras, na poltrona onde costumava se sentar –, inclusive em termos musicais, já que a trilha sonora que se repete quando ela aparece subliminarmente como personagem do filme, sua vida dá uma guinada e, no caminho da aventura, enfrenta o mal e seus próprios defeitos, conhece gente nova, convive com o garoto que poderia ser o neto que nunca teve, faz amigos bichos, como o cachorro falante Dug e o pássaro gigante Kevin.
De acordo com o material de divulgação para a imprensa, uma das tarefas mais difíceis no filme foi criar o conjunto de balões que leva a casa de Carl. “Era importante para o filme ter uma simulação realista dos balões. Os balões se comportam de forma realista, embora a noção de ser capaz de erguer uma casa com balões seja bastante absurda. Nós não somos físicos, mas um de nossos diretores técnicos calculou que seriam necessários de vinte a trinta milhões de balões para conseguir erguer a casa de Carl. Nós acabamos usando 10.297 para a maior parte das cenas em que a casa flutua e 20.622 quando ela decola. O número varia de tomada para tomada, dependendo do ângulo, da distância e do tamanho, de forma que fique interessante, convincente e visualmente simples”, diz Steve May, supervisor e diretor técnico do filme.
Com a utilização da técnica tridimensional para construir a animação, é possível observar os avanços do estúdio na construção dos personagens, da riqueza de detalhes dos pelos, das peles, das roupas etc. E também do 3-D, que com a utilização dos óculos especiais é possível perceber alguns elementos saltarem da tela, mas o espectador tem principalmente a ilusão de profundidade nas cenas aéreas, que são deslumbrantes e contam com cenários incríveis.
“Up – Altas Aventuras” não é o melhor filme da Pixar, no entanto, há de se dizer que se trata de uma produção bem-feita, que utiliza alta tecnologia para o desenvolvimento dos personagens animados por computador, com senso de humor peculiar, principalmente por conta do humor ácido do protagonista que se contrapõe à inocência da criança, e conta uma história emocionante do início ao fim.