Poucas coisas me irritam na vida. Ok, mentira. Muitas coisas me irritam na vida. Mas não é sobre essas muitas coisas que eu quero falar. O que eu quero dizer é sobre as poucas coisas que me irritam quando vou ao cinema.
Na hora que vou assistir a um filme, não se trata apenas de lazer. Acredite, é trabalho. E quando escolho um filme, geralmente não sei sobre o que ele fala. Prefiro deixar as imagens me surpreender e me envolver lentamente (ou rapidamente, se for um de ação). Mesmo que a escolha falhe, ou seja, mesmo que o filme seja uma porcaria, isso não me irrita. São coisas que acontecem, afinal não é sempre que se tem coisa boa na tela. Até porque nem sempre dá pra se ter coisa boa na tela.
O que me irrita quando eu vou ao cinema são coisas que vêm de pessoas que estão na sala: 1) quando falam durante o filme (cochichar bem baixinho, sem atrapalhar, sobre uma cena, não conta); 2) barulho da pipoca e, muito mais, barulho do saquinho da pipoca; 3) quando um cidadão se acomoda estrategicamente atrás da sua (minha) poltrona e fica chutando-a sem parar; 4) celular, mesmo no vibracall, incomoda. Ficar abrindo o flip para ver as horas, respondendo ou recebendo mensagem e deixando a luz do aparelho acender e iluminar a sala escura incomoda muito mais.
Para resolver esses percalços, é um pouco simples. No caso de falatório, olho com cara feia. Caso não resolva, solto logo um “xiiiiiu”. A pipoca não tem solução. Ou melhor, tem: nas cabines não há pipoca, nem nas sessões no Reserva Cultural. Bingo! Chute na poltrona me faz também olhar com cara feia. Quando não dá certo, ou porque a sala está muito escura ou porque a pessoa está interessada em fazer outra coisa no cinema (se é que você, leitor, me entende), trato logo de mudar de lugar. Agora celular, fala sério. Não dá.
Na verdade, olha o que acontece quando se tem celular ligado na sessão. Na semana passada aconteceu um episódio que foi de arrepiar os cabelos dos críticos. Não queria ficar dando muito ibope a esse assunto, porque no final das contas depõe contra a classe, mas como o Guia estampou em suas páginas, vejo-me no direito de falar também. Se o cri-crítico, que não gosta de nada, pode falar, eu também posso.
Na quarta-feira a imprensa especializada foi convidada para assistir a uma sessão do filme “Bobby”, que estréia nesta sexta-feira, dia 27 de julho. Ok, isso é muito comum, nenhuma novidade. Porém, enquanto eu estava sentada na poltrona e deixei o filme de Emilio Estevez me seduzir, uma colega que estava ao meu lado cochichou (bem baixinho, sem atrapalhar, é claro) sobre um cidadão (que a gente não conhecia) que estava fotografando imagens que eram exibidas na tela. Quando olhei direito, disse:
– Não, ele não está fotografando. Ele está gravando as imagens.
E era verdade. Eu estava assistindo ao filme por intermédio da tela do celular do cara (viu como não pode deixar o celular ligado durante a sessão?). Ao final da exibição, a menina ao meu lado saiu correndo e eu fiquei. A vontade que eu tinha era de chegar para aquele senhor distinto e falar:
– Não tem vergonha na cara?
Me contive. Só não contive o impulso de perguntar a outros dois colegas se eles conheciam o pirata. Não, nunca tinham visto a face daquele um.
– Vamos falar com o assessor.
Este foi o outro impulso. Lá fomos nós três comentar com o representante do distribuidor do filme sobre um pirata infiltrado entre os jornalistas. Final da história: fizemos o que tinha que ser feito. O que é certo, é certo. Pirata não tem vez, até porque a ação de um deles durante a cabine só faz com que os distribuidores tenham razão ao pedir para que os jornalistas, que estão ali para trabalhar, deixem seus aparelhos celulares, gravadores etc., na porta de entrada do cinema.
Um episódio muito triste, mas que ficará gravado, porque não é possível que alguém seja capaz de ser tão irresponsável e desagradável ao ponto de tentar fraudar uma obra. Isso também me irrita.