Memória Cinematográfica

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Chico Xavier

Nacional 26 abril 2010

Fui no último final de semana assistir ao filme “Chico Xavier”, de Daniel Filho. Esta foi a quarta semana de exibição e, na sala 4 do Cinemark Eldorado, domingo a noite, estava bem cheia (inclusive cheia de chatos – mas este é outro assunto).

Até a semana passada, mais de 2 milhões de pessoas tinham ido aos cinemas para ver a produção brasileira sobre o médium mineiro que morreu em 2002. A fita bateu recorde de maior abertura de uma produção nacional nos últimos 20 anos, ultrapassando o “Se Eu Fosse Você 2”, do mesmo diretor.

O longa-metragem conta, de maneira não-linear, a vida de Chico Xavier, que escreveu (ou melhor, psicografou) mais de 400 livros durante os seus 92 anos de vida. Na tela, ele é interpretado por Nelson Xavier, na terceira fase, sendo que antes é interpretado por Matheus Costa, quando criança, e por Ângelo Antônio, na fase adulta.

A fita de Daniel Filho mistura espiritismo com catolicismo, uma vez que Chico frequenta a igreja católica de sua cidade, é amigo do padre e costuma se confessar com o religioso, alegando que pecou – embora ainda fosse uma criança e nem catecismo tinha feito.

A partir de uma participação do programa de televisão “Pinga Fogo”, o médium responde as perguntas dos repórteres e o espectador pode conferir, em flashback, as cenas de sua vida: quando descobriu que podia ver e ouvir mortos, quando foi morar com a madrinha e depois com a madrasta, quando fez de sua vocação, uma oportunidade para ajudar os mais necessitados, mandando recados “do além” ou até mesmo fazendo curas espirituais.

Há também o tratamento inverso, quando muitas pessoas não acreditam em sua capacidade e, portanto, acham que se trata de uma fraude. Exemplo quando o diretor do programa (vivido por Tony Ramos) não acredita em nada do que ele fala, mas é persuadido por sua esposa (Christiane Torloni), uma vez que a carta enviada foi escrita pelo filho dos dois, morto um ano antes. Os jornalistas da revista “Cruzeiro” também fazem as vezes de “advogado do diabo”, tentando provar que é charlatanismo.

“Chico Xavier” é daquelas produções que até chegam a prender a atenção do espectador e a emocionar a plateia, principalmente quem um dia já perdeu um ente querido, mas, como produção de cinema, deixa bastante a desejar. E eu explico.

Primeiro porque a direção de arte se resume em alguns objetos de época, tal como um carro. E, ambientado em Minas Gerais, o calçamento de pé-de-moleque de Tiradentes ajuda um pouco a remeter ao passado, mas não é suficiente. Outro problema, a meu ver, é a interpretação de Ângelo Antônio que, no papel de Chico Xavier, de Francisco (no longa-metragem “2 Filhos de Francisco“) ou até mesmo no personagem que interpretou em alguma novela das oitos, é exatamente igual: aquela fala pausada que demonstra não estar interpretando.

“Chico Xavier” vale ser visto devido à importância histórica do médium, da influência de suas visões na vida das pessoas (uma vez que até um julgamento tomou rumo diferente depois de uma carta psicografada por ele). E, quando o filme terminar, espere os créditos: é a oportunidade de ver o programa “Pinga Fogo” original, com a participação de Chico Xavier, e perceber que a semelhança do ator Nelson Xavier é enorme.

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