Memória Cinematográfica

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O Grande Chefe

Curto circuito 24 agosto 2007

O diretor dinamarquês Lars von Trier não pode ser considerado convencional. Um dos criadores do Manifesto “Dogma 95”, ou voto de castidade, como ficou conhecido, ao lado de Thomas Vinterberg, que prevê regras muito claras às produções (estipulação dos locais das filmagens, iluminação, proibição de truques, entre outras restrições), não pode ser tradicional. É preciso ser ousado e, sobretudo, criativo.

Em sua nova produção, “O Grande Chefe” (“The Boss of It All”), ele novamente faz movimentações de câmera ousadas. O longa-metragem chega às telas nesta sexta-feira, dia 24, em pequeno circuito, após participar da abertura do Festival de Copenhague em setembro do ano passado. A fita inicia-se quando o diretor apresenta a história a partir de seu reflexo no vidro do prédio onde se passa a trama.

O mesmo diretor de “Dogville” inova mais uma vez, quando escolhe filmar com Automavision, um princípio de filmagem (e gravação de som) desenvolvido com a intenção de limitar a influência humana. Neste caso, o computador é programado com uma fórmula que fornecerá uma lista de possibilidades a serem aplicadas para os movimentos de câmera, não permitindo nenhum processamento adicional, nem mudança como correção de cor, manipulação da imagem ou edição de som, já que o material será diretamente transferido para a cópia final.

Assim, o longa apresenta inúmeras cenas feitas com planos e contraplanos, resultando em uma obra esteticamente cansativa. A comédia, filmada em cinco semanas, se passa dentro de um escritório, quando o dono de uma empresa de TI, Ravn (Peter Gantzler), pretende vendê-la. Porém, para não mostrar aos seus funcionários seu verdadeiro caráter, ele precisa de um chefe fictício. Então, ele contrata um ator, Kristoffer (Jens lbinus), para desempenhar o papel do big boss, quando resolve vender a companhia aos islandeses (esse povo que atualmente está comprando metade de Copenhague, a capital dinamarquesa onde se passa a história).

Como o dono da empresa não tem intenção de ficar com os funcionários antigos, nem pagar seus direitos trabalhistas, ele trata de jogar a culpa em cima do grande chefe. Entre os empregados, um enlouquecido que quer resolver tudo a tapa, a loira do RH que se insinua ao big boss (Iben Hjejle, a Laura de “Alta Fidelidade”), a mocinha que quer se casar, entre outros.

A fita joga luzes ao mundo corporativo, à concorrência entre os funcionários, sempre com bom humor refinado e crítica. “O Grande Chefe” é um filme, apesar de cansativo, essencialmente ousado e bem-feito. Uma verdadeira obra de Lars von Trier que, como de costume, também assina o roteiro.

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