A estreia oficial é apenas no dia 5 de junho, mas “A Mulher Invisível” terá pré-estreias em alguns cinemas neste final de semana. O longa-metragem é dirigido por Cláudio Torres (“Redentor”), também responsável pelo roteiro e pela produção. Sendo assim, ele escreveu a personagem que dá nome ao filme, a tal mulher invisível, pensando na atriz Luana Piovani. Na trama ela é Amanda, vizinha de Pedro (Selton Mello), que começa a fazer parte de sua vida, assim que sua esposa (Maria Luiza Mendonça) o deixa e viaja com um alemão.
A partir de então, ele passa a viver a vida de solteiro indo a festas raves, alternando a companhia na cama, de modo que a cada noite uma mulher nova ocupa o espaço deixado. Até que, depois de se isolar (dar “um tempo do mundo”, como ele diz em uma passagem), bate a sua porta a mulher próxima ao ideal (ou seja, faz parte de sua ideia): bela, dedicada, adora futebol e não tem crise de ciúme. No entanto, como não é mistério, já que é o mote do filme, ela simplesmente não existe, é fruto da imaginação do rapaz que está desolado por conta da perda da esposa, uma vez que ele tinha o sonho de passar a vida toda com ela, ter filhos etc. Amanda passa a cuidar dele, os dois se apaixonam e vivem a vida de casal.
Então, seu amigo e colega no trabalho (ambos trabalham como controladores de trânsito), Carlos (Vladimir Brichita), começa a desconfiar da paixão, pois ainda não a viu. Cético com relação ao amor, Carlos conhece a vizinha de Pedro, Vitória (Maria Manoella), que acabara de ficar viúva, mas é apaixonada pelo vizinho. Os personagens estão no Rio de Janeiro, mas a história poderia acontecer em qualquer lugar do mundo, uma vez que a maior parte das cenas acontece no apartamento de Pedro, em restaurantes, cinemas etc.
Selton Mello, como já é conhecido do público, vive o personagem de maneira intensa, com senso de humor que lhe é peculiar, timing perfeito para comédia e sempre se destaca quando em cena. Aqui, assim como em “Meu Nome não é Johnny“, quando Selton vive o protagonista que se envolve com drogas se tornando um traficante internacional, cortam a luz do seu apartamento (e ele passa a usar luz de velas), assim como cortam o telefone por falta de pagamento. É como se o ator conseguisse lidar muito bem com esses episódios.
Luana utiliza mais os seus atributos físicos para viver esta personagem, uma vez que na maior parte das cenas ela aparece vestindo lingeries (a maioria das peças é dela mesma): um perfeito desfile de calcinha e sutiã, ora comportado, ora ousado, incluindo cinta-liga e corpete. Um dos momentos de destaque do filme é com a participação de Fernanda Torres, que vai à casa de sua irmã, Vitória, para também ouvir a conversa do vizinho através da parede com ajuda de um copo. E Maria Manoella, aliás, é a tal mulher real, de carne e osso, com defeitos, como uma gordurinha aqui, outra ali, com ataque de ciúme.
No longa-metragem “A Garota Ideal“, que atualmente está em cartaz nos cinemas brasileiros, o protagonista se apaixona por uma boneca que encomendou pela internet, e de fato acredita que ela é real, fazendo com que o espectador se sinta um pouco constrangido com as cenas em que os dois dialogam. No filme de Cláudio Torres, porém, o protagonista também dialoga com algo irreal, mas o espectador, ao contrário do outro filme, fica mais confortável, uma vez que a personagem, vez ou outra aparece, conversa com o rapaz e faz parecer que é real.
Destaque também para a trilha sonora, que acompanha o estado de espírito dos personagens: música incidental fúnebre quando ele está triste tentando retomar as atividades cotidianas, e rock and roll quando vai dançar, se divertir etc., principalmente músicas de Ramones, Janes Joplin, Lobão.
“A Mulher Invisível” chega aos cinemas com cerca de 200 cópias, conforme adianta o presidente da distribuidora Warner, José Carlos Oliveira, e em um momento em que o cinema brasileiro está em alta, haja vista o recorde de público que “Se Eu Fosse Você 2” atingiu neste ano (mais de seis milhões de espectadores conferiram o filme estrelado por Tony Ramos e Gloria Pires). Segundo o Filme B, aliás, a fita conquistou o primeiro lugar em renda no país (até 25 de maio), e “Divã”, com Lília Cabral, está em sétimo local.
Com base nesses dados, embora “A Mulher Invisível” seja um filme previsível e sem grandes aprofundamentos, é possível que conquiste o espectador que vai correr às salas de cinema para acompanhar o novo trabalho de Selton Mello que, de fato, está bem, embora não seja a sua melhor interpretação; as belas curvas de Luana Piovani e a certeza que a tal mulher ideal não existe.
Seja como for, “A Mulher Invisível” é um filme de qualidade, que vale a pena ser conferido, ainda que seja para homenagear o cinema brasileiro ou apenas dar duas ou três gargalhadas com as poucas piadas que de fato são engraçadas e fazem pensar.