O longa inicia com dois meninos. Um lendo e outro ouvindo o barulho da natureza. O garoto, que procura separar os sons do vento, do riacho, do canto dos pássaros, mais tarde se tornou o maestro Mozart Vieira, que criou a Orquestra Sinfônica do Agreste, formada por meninos e meninas do sertão nordestino, que até então dividiam seu tempo entre a escola e o trabalho nas plantações.
O papel para viver Mozart, nome de batismo dado por seu avô, é de responsabilidade do ator Murilo Rosa. Por gostar de música, ele aparece tocando violão para as crianças, mas é com apoio de um amigo que ele resolve criar uma orquestra, mesmo achando que música clássica não seria ideal para o local.
Seu primeiro passo, portanto, foi arrumar um lugar para ensaiar (uma escola) e chamar os futuros músicos (os meninos e as meninas da cidade). Os instrumentos dados para os aprendizes tinham pertencido ao seu avô e outros foram cedidos por outros moradores da região. São flautas, trompetes, sax etc., ou seja, a maioria de sopro. Além de conseguirem a escola e os instrumentos, outras pessoas da comunidade também ajudaram o sonho do maestro se tornar realidade, como o dono de uma loja de material de construção, que ajudou a transformar o antigo galinheiro, em uma sala de ensaio.
Embora seu entusiasmo tenha sido legítimo, principalmente com o foco de ajudar as crianças a realmente terem uma profissão (como de fato aconteceu, na vida real), a iniciativa de Mozart despertou a inveja e a ira de políticos, policiais da região, que entenderam que o maestro apenas queria se promover e, depois, se candidatar.
Na verdade, a São Mariano da ficção é a pequena cidade de São Caetano, que possui cerca de 30 mil habitantes e fica a 150 quilômetros do Recife. A Orquestra Sinfônica do Agreste era conhecida e admirada em todo o país graças aos concertos realizados em Brasília, São Paulo e no Rio de Janeiro, à gravação de um CD e às apresentações na televisão.
No decorrer da trama, o espectador pode acompanhar a trajetória dos músicos mirins, ao lado do maestro, que lhes ensina peças de Villa-Lobos, Bach, Mozart. No entanto, como nem tudo são flores, há outros acontecimentos no meio do caminho que envolvem acusações de crimes como pedofilia, seqüestro e agressão que vai mobilizar gente de outros estados brasileiros, incluindo a intervenção do bispo D. Helder Câmara e dos artistas de todo o país conseguem reverter a situação.
A câmera de Thiago passeia pelas alegrias e tristezas das crianças, de suas famílias e também do maestro, que se envolve por completo para ver o seu sonho realizado e o futuro das crianças, garantido.
Além de Murilo Rosa, como protagonista, estão Priscila Fantin, como uma das músicas, Othon Bastos e jovens não-atores que foram preparados por Laís Corrêa.
Paulo Thiago, também autor do roteiro, diz, no material de divulgação para a imprensa, que o interesse pela história aconteceu em janeiro de 1995 quando leu reportagem escrita por Mathew Shirts, que atualmente é colunista do jornal “O Estado de S. Paulo”. A história que ele escreveu a seis mãos com Melanie Dimantas e Graciela Maglie é uma ficção para contar e pensar no fato que aconteceu. No mínimo, uma lição de vida emocionante sobre persistência, de maneira bem-contada, embora algumas cenas não tenham ligações, de modo que deixam um pequeno vazio nas transições, e algumas cenas não se justificam, como as interpretações caricatas do delegado e da promotora, além da cena do flerte do maestro com filha do dono da loja.
De todo modo, pela espontaneidade dos atores, pela verdade que Murilo Rosa traz no olhar, Orquestra dos Meninos vale ser conferido. Com certeza, caro leitor, você também vai se emocionar.