Memória Cinematográfica

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O Homem que Desafiou o Diabo

Estreia Nacional 18 outubro 2007

Estudiosos do cinema brasileiro defendem que os temas tratados pela cinematografia nacional são apenas três: sertão, favela e mar. E para não fugir do convencional, estréia nesta sexta-feira, dia 28 de setembro, o longa-metragem “O Homem que Desafiou o Diabo”, inspirado no livro “As Pelejas de Ojuara”, escrito por Nei Leandro de Castro.

A narrativa tem como cenário o sertão de Rio Grande do Norte, onde o viajante Zé Araújo (Marcos Palmeira) aporta em uma pacata cidade para vender tecidos ao turco (Renato Consorte) comerciante. No baile de arrasta-pé, ele conhece Dualiba (Lívia Falcão), por quem sente forte atração.

No entanto, no dia seguinte, após ter tirado a virgindade da quarentona que tem obsessão por sexo, Zé Araújo é obrigado pelo pai da moça a se casar. Porém, pouco tempo depois ele surta, troca de nome (em uma passagem antológica com o ator Lúcio Mauro) – passa a se chamar Ojuara, seu nome ao contrário – e se manda da cidade rumo a São Saruê: a terra da fartura.

Como não tem medo de nada, no caminho, encara Cão Miúdo (o estreante Helder Vasconcelos), um dos disfarces do “coisa ruim”. Nos bordéis da vida, se apaixona por Genifer (Fernanda Paes Leme), conhece o corcunda (Leon Góes) e a devoradora de homens Mãe de Pantanha (Flávia Alessandra).

A fita dirigida por Moacyr Góes (“Trair e Coçar é só Começar”) é cheia de metáforas, principalmente as relacionadas a sexo. O roteiro é formado por diálogos que privilegiam o uso de palavrões e gírias nordestinas, resgatando, desse modo, alguns termos que há muito não se ouve.

Vale lembrar que Moacyr, assim como o produtor Luís Carlos Barreto, são nordestinos do Rio Grande do Norte e do Ceará, respectivamente. Outro detalhe importante a se salientar é a interpretação exagerada dos personagens, que em nada contribui para a perfeição da trama, e os deixa bastante caricatos.

O roteiro, escrito a quatro mãos por Moacyr Góes e Bráulio Tavares (“Sai de Baixo”), prevê diálogos engraçados, cheio de piadas e malícias, e também em versos, que vai fazer o público se divertir.

Marcos Palmeira, protagonista da trama, cumpre o seu papel e enfrenta o diabo com pontapés e palavras, se esforça para ser um nordestino e até que consegue mostrar a que veio. Embora o enredo seja sobre o desafio do homem ao diabo, é principalmente sobre as suas fraquezas com relação às mulheres que foca a narrativa. O desafio, porém, fica na expectativa de ser mais entusiasmado e eloqüente.

De bordel em bordel, o personagem deita nos braços de muitas mulheres, inclusive uma que se diz devoradora de homens e precariamente vivida por Flávia Alessandra que, sim, é um mulherão, mas fica devendo no papel. A prostituta por quem Ojuara se apaixona, personagem de Fernanda Paes Leme, tem cara de Lolita, uma menina-moça que não mostra em nada a arte de seduzir. É ela, aliás, quem protagoniza uma das cenas mais bizarras da fita, quando o assunto é uma aposta e um prego.

Ela também é cortejada por Zé Tabacão, vivido por Otto, ex-percussionista da primeira formação da banda pernambucana Nação Zumbi. Uma aposta ingênua que traz à tona o questionamento sobre o motivo de se escalar um músico, em vez de privilegiar bons atores para fazer o papel do troglodita que derrubou uma porta de verdade. Por falar em música, a trilha sonora, que lembra a batida do maracatu, é de responsabilidade de André Moraes (“Lisbela e o Prisioneiro”) e conta com canção original do Ministro da Cultura Gilberto Gil.

“O Homem que Desafiou o Diabo” é uma produção razoável, que custou mais de R$ 10 milhões, mas não traz inovações cinematográficas, embora este seja, vá lá, o melhor filme de Moacyr Góes até agora. Filmada em locações, a fita mostra até um castelo que é real, no meio do sertão nordestino. Excluindo uma ou outra cena de mau gosto, como a que mostra pêlos pubianos, entre outras, a película vai, no mínimo, divertir a platéia.

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