Em meio a tantas denúncias de assédio em Hollywood, como os casos de Harvey Weinstein e Kevin Spacey, Woody Allen não passaria em branco. Ele já foi julgado informalmente por ter se casado com a enteada, Soon-Yi Previ, filha adotiva de Mia Farrow, e, recentemente, sua filha adotiva, Dylan Farrow, foi aos jornais acusá-lo de assediá-la sexualmente quando ela tinha apenas sete anos –em 1992, o caso foi levado para a polícia, investigado e não foi provado nada. Com tantas atrizes acusando gente do mundo do cinema, Dylan achou um desaforo as pessoas continuarem prestigiando o cineasta e trabalhando com ele, sendo que é mais um molestador.
Algumas atrizes, como Rebecca Hall e Mia Sorvino, se manifestarem em favor de Dylan e disseram se arrepender de trabalhar com Allen –e não pretendem fazê-lo novamente. Outros raros, como Alec Baldwin, manifestou seu apoio ao diretor e disse que não passou momentos melhores na vida como quando filmou “Para Roma com Amor”, com o cineasta.
Deixando o julgamento para os tribunais (ninguém aqui está trabalhando para julgar a vida pessoal de Woody Allen, mas sim seu mais recente filme), vamos falar de “Roda Gigante” (“Wonder Wheel”), este belíssimo filme e recém-lançado.
O longa-metragem se passa na década de 1950, em Coney Island. Na trama, a quarentona atriz Ginny (Kate Winslet) é casada com Humpty (James Belushi), um operador de carrossel no parque de diversões. Porém, ela acaba se apaixonando pelo salva-vidas Mickey (Justin Timberlake) ao mesmo tempo em que sua enteada, Carolina (Juno Temple), também cai de amores por ele. A confusão está formada, mesmo que de forma ainda não explícita.
Ginny, que também tem um filho do primeiro casamento, precisa dar um basta nas molecagens que ele faz ao atear fogo em tudo o que vê –incluindo o consultório da psicóloga que frequenta para entender o motivo de ser um incendiário.
De certa forma, ela também coloca lenha na fogueira ao se envolver com o salva-vidas, mesmo sendo casada. É frustrada por não trabalhar como atriz, mas sim como garçonete do restaurante perto de onde moram, na praia de Coney Island. O casal com o menino vivem em uma pequena casa em cima da barraca de tiros e em frente à roda-gigante. E, vendo a roda girar, vai girando também o rumo de suas vidas e as confusões.
A fotografia de Vittorio Storaro é excepcional, uma viagem ao passado com cores vibrantes e uma luz encantadora.
Mais uma vez Woody Allen se supera ao exorcizar os seus problemas por intermédio de seus personagens. O alter ego da vez é a uma moça bela, talentosíssima, que faz o papel de mãe e esposa, mas que não abre mão de ser amada e desejada por um belo rapaz. Porém, ela não se dá por satisfeita quando a concorrência aperta.
O ponto alto da trama é a interpretação de Kate Winslet, principalmente na sequência em que ela lamenta com Mickey a sua escolha.
No ano anterior, Allen lançou “Café Society” e já foi um ganho em sua cinematografia, ao contrario, porém, de “Homem Irracional” e “Scoop“. “Roda Gigante” é daqueles filmes para ter na memória e lembrar para sempre, até porque, embora Woody Allen tem lançado um filme por ano, há rumores de que sua próxima produção, em fase de edição, , não seja lançada ao mercado pela distribuidora Amazon -responsável pela série de streaming “Crisis in Six Scenes“. Tudo devido ao movimento #metoo e do prejuízo que seus filmes têm gerado financeiramente. Artisticamente, o não lançamento do longa terá um prejuízo ainda maior.