O sonho de Vítor (Celso Franco) é aparecer na televisão, tal como ele costuma ver nas telas dos aparelhos espalhados em uma grande feira na cidade onde vive, Assunção, no Paraguai. Conversando com a irmã, descobre que o celular é capaz de filmar. Quando se dá conta, o tal celular, vendido por 700 guaranis, vira seu objeto de desejo, quase uma obsessão. Mas, para conseguir a peça, é preciso trabalhar e ganhar dinheiro. Seu trabalho, aliás, é carregar os pacotes que das pessoas que compram na tal feira.
Assim começa o thriller paraguaio “7 Caixas” (“7 Cajas”), em cartaz atualmente em São Paulo. E são justamente sete caixas (daí o nome do filme) que o garoto terá de guardar “como se fosse sua própria vida” e entregá-las no momento certo e no local combinado. Se fizer tudo certinho, Vítor vai ganhar cem dólares, dinheiro prometido pela pessoa que fez a encomenda. Mas para garantir que as caixas chegarão ao destino, cada um fica com metade de uma nota de cem dólares: no dia combinado, elas poderão ser unidas.
Os diretores Juan Carlos Maneglia e Tana Schembori fazem analogias o tempo inteiro com o cinemão americano. É verdade que o seu país não tem tradição cinematográfica, o que o leva “imitar” as referências. Mas os realizadores vão além. Pra começar, rasgam a nota de cem dólares e fazem questão de mostrar isso em close ao espectador. Antes disso, mostra quanto vale o dinheiro, se convertido para a moeda local: compara o valor do celular e de remédios, com o valor de cem dólares, e coloca seu protagonista para correr.
Ao invés de a correria ser feita em carrões, ela é realizada com carrinhos de mão, mostrando a pobreza paraguaia. Mesmo sem necessidade, lá pelas tantas, cada personagem tem o seu. E vamos para a correria com a câmera na mão, com closes e referências a filmes americanos, mas sem deixar completamente de lado o clássico “Cidade de Deus”, de Fernando Meirelles, já que se passa em um conjunto habitacional carioca.
O filme brasileiro fala de pobreza e do tráfico de drogas; já o paraguaio trata principalmente da violência e da pobreza, mostrando, por exemplo, a dificuldade que se tem para comprar remédio para o filho doente ou de pagar o parto do outro que vai nascer.
Se “Cidade de Deus” era contemporâneo ao seu lançamento, embora conte com diversos flashbacks, “7 Caixas” não tem muita clara a época em que o filme se passa. Uma das referências que serve como base para essa confusão é o modelo dos celulares que aparecem como objeto de desejo.
“7 Caixas” não para. Traz uma reviravolta atrás da outra (outro cacoete de filmes americanos), mas consegue manter o espectador vidrado em saber, primeiro, o conteúdo da caixa, e depois em como o garoto vai se livrar da perseguição e, claro, conseguir a metade da nota que lhe foi prometida no começo do filme. Uma das metas já é clara, Vítor aparece na televisão, tal como ele fazia questão de se ver.
“7 Caixas” não tem nada de falsificado: é legítimo e autêntico. O longa-metragem surpreende e é um bom começo para conhecer, quem sabe, os próximos filmes paraguaios que chegarão aos cinemas brasileiros.