Memória Cinematográfica

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O Passado

Lembro que quando saí da sessão do longa-metragem “A Separação”, do iraniano Asghar Farhadi, fiquei muito sensibilizada, pensando sobre a história e como a sutileza das imagens falou mais do que qualquer outro elemento. O longa ganhou o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, em 2012, e foi o melhor filme na minha lista dos 10 melhores daquele ano.

Não foi diferente, pois, quando saí da sessão realizada para a imprensa há mais de um mês do filme “O Passado” (“Le Passé”), do mesmo diretor.

Com problemas em seu país natal, Farhadi vive na França atualmente e foi lá que dirigiu a sua nova obra. Ele não é único. Seu conterrâneo, Abbas Kiarostami, fez, entre muitos outros, “Gosto de Cereja”, no Irã, em 1997, mas depois saiu de lá e fez outros filmes, como “Cópia Fiel”, em 2010 na França, e “Um Alguém Apaixonado”, em 2012 no Japão.

Depois de passar pelo Festival Varilux de Cinema Francês, que aconteceu em abril, no Brasil, “O Passado” chega ao circuito mais amplo – embora nem tão amplo assim.

Em “O Passado”, Ahmad (o iraniano Ali Mosaffa) retorna a Paris depois de passar quatro anos em Teerã. Isso porque sua mulher francesa, Marie (Bérénice Bejo), pede que ele volte para que possam assinar, enfim, o divórcio.

Marie tem pressa, pois já mora com seu novo namorado e quer encerrar a relação que tem com o passado.

Mas o problema familiar que Marie enfrenta é mais embaixo. Nada tem a ver com o divórcio, mas sim a relação conflituosa de seus filhos com o novo namorado. A filha adolescente, Lucie, não aceita o novo namorado da mãe; e o filho dele é teimoso ao aceitar as ordens da futura madrasta. Ou seja, problema familiares comuns que poderiam ser na França, no Brasil, ou em qualquer outro lugar do mundo.

Nos diálogos, o personagem iraniano faz o “alter ego” do diretor, quando diz que prefere viver no Irã, que lá é o seu lugar, além das dificuldades de adaptação na França.

A história é contada sobre o passado, mas nada de cacoetes ou flashbacks, comuns aos filmes americanos, por exemplo. Os diálogos e as atitudes dão conta de retratar o que aconteceu antes e como está a situação atual.

Ao mesmo tempo que sente falta da ex-mulher, Ahmad se vê envolvido com os problemas que ela deveria resolver. E talvez seja dessa maturidade que Marie sente falta, mas que abriu mão.

“O Passado” é tocante, discute problemas comuns e cotidianos, é realista, cheio de reviravoltas e segredos capazes de surpreender o espectador. Há quem sentirá falta do contexto envolvendo o Irã, que neste filme aparece como coadjuvante. Mas isso é apenas uma questão de ângulo e em nada atrapalha o desenvolvimento de um grande filme.

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