Memória Cinematográfica

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Diário de um Jornalista Bêbado

Estreia 19 abril 2012


Depois de viver o protagonista na franquia “Piratas do Caribe” em quatro filmes, Johnny Depp retorna ao Caribe. Desta vez, porém, é para ser um jornalista freelancer, Paul Kemp, na década de 1950, no longa-metragem “Diário de um Jornalista Bêbado” (“The Rum Diary”).

A questão é que ele cai de paraquedas na redação de um jornal decadente de Porto Rico, mas logo se adapta ao estilo boêmio. É aí que entra na história a bebida tradicional daquela região (rum) e o adjetivo (bêbado) que a tradução nacional arrumou para o filme.

A fita é baseada em Hunter S. Thompson, jornalista e escritor norte-americano que ficou famoso por ter um estilo de escrita extravagante e por fazer o chamado “jornalismo gonzo”, que narra experiências em primeira pessoa e de modo parcial, além de fugir às regras básicas do jornalismo, pois usa a opinião e se esquece do distanciamento.

Na vida, Thompson gastava dinheiro com drogas e álcool, contraía dívidas no hotel, não cobria o acontecimento e, no lugar da matéria, descrevia o ambiente sob seu ponto de vista.

A questão é que o longa, apesar da atuação brilhante de Depp e de sutis toques de humor, não prende o espectador, pois a história é contada de forma superficial. Lá pelas tantas, ainda é possível se perguntar: “Sobre o que se trata este filme? O que querem as personagens?”. O foco é no jornalista, mas não mostra a sua rotina, a não ser vez ou outra em que está escrevendo o horóscopo para o periódico. Faltam conflitos, falta o estresse do fechamento da edição com o editor Lotterman (Richard Jenkins), que saca logo de cara que Kemp é mais um a cair no gosto pelo rum.

Escrito e dirigido por Bruce Robinson (roteirista de “Os Gritos do Silêncio” e diretor de “Os Desajustados”) com base no romance original de Thompson, o longa-metragem se perde e larga a história do jornalismo para focar no romance que pode acontecer entre o jornalista e a linda namorada (Amber Heard) de Sanderson (Aaron Eckhart, de “Batman – O Cavaleiro das Trevas”), um dos empresários envolvidos em negócios obscuros de desenvolvimento de propriedades na ilha.

A questão é que Kemp é recrutado por Sanderson para escrever sobre seu negócio. Aqui, no caso, mais um texto parcial, já que deve, por acordo, usar suas palavras para o benefício dos empresários corruptos. Além da boa atuação de Depp, vale a pena a interpretação de Giovanni Ribisi (“Avatar”), que no filme é o jornalista Moberg.

“Diário de um Jornalista Bêbado” conta uma história que não atrai o espectador e se perde na própria narrativa, deixa lacunas, produz cenas desnecessárias e destoa do conteúdo do livro no qual o filme foi baseado.

Em debate após a exibição do filme no Cine Livraria Cultura, esta semana, o jornalista Xico Sá disse que “não queria que Johnny Depp fizesse este papel”. Eu concordo.

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