Com problemas de alcoolismo, Nick (Will Ferrell) se vê à beira do abismo, mas está, como se diz, “à beira de um ataque de nervos”, já que ele é mandado embora do trabalho, sua esposa o tranca para fora de casa e, portanto, precisa começar do início. Esse é o tema de “Pronto para Recomeçar” (“Everything Must Go”), longa-metragem que chega nesta sexta-feira, 11, aos cinemas brasileiros.
Pelo nome em português da fita escrita e dirigida por Dan Rush em sua estreia no cinema, já se sabe o rumo que a história vai tomar. No entanto, a pergunta é sobre o modo como chegará lá.
A questão é que o espectador pouco sabe sobre a personagem e, durante toda a projeção, não terá muitas informações, fato que cria uma certa distância entre personagem e espectador, e não o aproximando. Por exemplo: sabe-se que ele trabalhava em uma grande empresa e tinha um cargo alto no ramo de vendas. É casado, mas sua esposa o deixou (e o espectador não a conhecerá). E não tem filhos.
Ao chegar em casa e se deparar com a porta trancada e todas as suas coisas no jardim, Nick terá de tomar uma atitude. Aconselhado pelo amigo (e delegado), Frank (Michael Peña, de “Crash – No Limite”), ele resolve vender seus pertences, pois assim não terá problemas em ficar no jardim durante cinco dias – lugar onde decidiu morar: jardim de sua própria casa.
Neste meio tempo faz amizade com um garoto, Kenny (Christopher C.J. Wallace), que vai lhe ajudar a se livrar da velharia que ocupa o seu jardim e, em troca, ganhará dinheiro e aprenderá noções de beisebol.
Quem também vai dar uma força é a vizinha, Samantha (Rebecca Hall, de “Vicky Cristina Barcelona”), fotógrafa e professora, que saiu de Nova York e se mudou para o Arizona.
“Pronto para Recomeçar” tenta desenvolver uma história dramática e discorrer sobre os problemas do alcoolismo na vida social do protagonista, mas não se aprofunda, fazendo com que a história fique rasa.
Acostumado a estrelar comédias, Will Ferrell usa o seu humor ácido neste drama, deixando-o mais leve, como quando dá uma resposta atravessada à vizinha sobre o futuro dela com o marido que nunca chega, ou até mesmo na atitude de furar o pneu do carro do ex-chefe usando um canivete. Como ator dramático, Will Ferrell foi uma das melhores partes de “Mais Estranho que a Ficção”, além do próprio roteiro, claro.
O protagonista passa praticamente todos os minutos de projeção deste filme tomando cerveja e não fala, em momento nenhum, que pretende parar, já que este foi o principal motivo de sua vida estar em ruínas. Mas também não enlouquece, mesmo vendo que está tudo acabado, sem acesso à sua conta bancária, sem carro e prestes a ficar até mesmo sem a sua poltrona favorita.
De qualquer maneira, “Pronto para Recomeçar” tenta jogar luzes sobre o fato de as pessoas colocarem tudo a perder em troca de uma aventura banal, que não tenha significado nada, mas que foi feita com a ajuda do álcool. Os vícios, de uma maneira geral, colocam à prova a resistência das pessoas, de modo que elas devem mostrar se são mais fortes do que o próprio vício ou se vão se deixar levar por ele.
Com roteiro lento e que se passa praticamente apenas no jardim de Nick, “Pronto para Recomeçar” é daqueles filmes que precisam de um pouco de paciência do espectador e que, no final, trará a “moral da história” previsível, ainda que o desfecho que não seja totalmente piegas, já que Rush deu uma razoável solução.