Memória Cinematográfica

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VIPs – Entrevista

Entrevista Nacional 25 março 2011


“VIPs”, novo trabalho do ator Wagner Moura, conta a história real de Marcelo da Rocha que, desde pequeno, gosta de imitar as pessoas e se faz passar pelos outros. Do Paraná, onde vive com a mãe, que é cabeleireira, pega o ônibus para Cuiabá, em Mato Grosso do Sul, a fim de aprender a pilotar avião, tal como o seu pai. No entanto, é a partir do trabalho que consegue no hangar como lavador dos aviões é que vai começar a escrever a sua própria história e não ter o futuro traçado como um “Zé Ninguém”.

Seu caminho para tirar o brevê (a carteira de piloto) não será a normal, como todos os pilotos o fazem. A certa altura, ele vai trabalhar para um traficante paraguaio e ser procurado pela polícia. Golpe após golpe, o maior de todos será se passar pelo empresário Henrique Constantino, filho do dono da companhia aérea Gol. No resort repleto de personalidades da televisão e do show business, ele vai ter de se virar para continuar sendo quem ele acha que é.

Para viver o protagonista, ninguém faria tão bem o personagem de mil facetas quanto Wagner Moura, que ultimamente tem se destacado no cinema no papel de capitão Nascimento, em “Tropa de Elite”. A fita, dirigida por Toniko Melo (da série “Som & Fúria”), é baseada no livro homônimo de Mariana Caltabiano. O roteiro, porém, tem assinatura de Thiago Dottori e do premiado Bráulio Mantovani que, entre outros, escreveu “Cidade de Deus”, dirigido por Fernando Meirelles.

Em entrevista coletiva concedida à imprensa, Toniko e Bráulio falaram sobre a adaptação. Segundo o roteirista, o personagem nasceu a partir da frase do verdadeiro Marcelo, quando disse que havia sido preso por não ter conseguido sair do personagem. “E daí fomos construindo as características de trás pra frente.” Características, aliás, muito psicológicas, a ponto de uma das principais plateias para a finalização do longa terem sido repletas de psicólogos, psicanalistas, psiquiatras etc.

De acordo com Toniko, só a história real de Marcelo não sustentaria um filme de duas horas. Por esse motivo, há muita ficção misturada. “As histórias reais normalmente são mais pitorescas. E aqui eu precisava de algo para fechar o arco dramático, ou ficaria apenas golpe atrás de golpe. No filme, demos um objetivo ao personagem, fizemos um cara que buscava alguma coisa.”

Quando leu o roteiro, o ator teve a percepção de que era alguém que estava procurando saber quem é. “Achei linda essa busca, porque é um menino brilhante e talvez não tenha conseguido canalizar esse talento para fazer algo bom”, pontua.

Wagner conta que se propôs a fazer um menino que quer ser alguém e não fazer o estelionatário. “Queria fazer todos os meus personagens assim, com essa honestidade.” O objetivo de Marcelo, portanto, é ser alguém na vida, correr atrás do seu sonho. E, como há muitas cenas no ar, mostrando o rapaz aprendendo a pilotar, o diretor conta que, no céu, apenas profissionais fizeram o voo. “Há cenas que nem um piloto comum seria capaz de fazer.

Ali, quem pilota é alguém da Esquadrilha da Fumaça, um craque.” Mas a repórter não se contentou e quis saber: assim como seu personagem, Wagner Moura aprendeu a pilotar? “Sim. As cenas em que apareço taxiando, sou eu, assim como todas as outras no chão. Aprendi bastante coisa”, diz, achando graça.

Apresentador Amaury Jr. faz particiapação especial no filme

Versatilidade
Versátil como poucos atores de sua geração, Wagner Moura mostra, em apenas um filme, que pode se transformar diversas vezes, mas sem perder o foco da história que está contando. Para se ter ideia, além de mostrar o tal piloto, e depois empresário, há uma sequência na qual ele interpreta uma canção da Legião Urbana, banda liderada por Renato Russo. Na trama, ele canta “Será?”, um dos primeiros sucessos da Legião. Wagner que, na vida real, tem uma banda, “Sua Mãe”, mostrou a dança igualzinha a de Renato. “Aquela no filme é a minha banda”, entusiasma-se. “Eu não perco a oportunidade de mostrar a minha própria banda”, completa.

De acordo com Bráulio Mantovani, o Marcelo imitava Bono Vox, vocalista da banda irlandesa U2. “Mas era muito caro, então fizemos a Legião Urbana, porque o Toniko tinha dirigido o primeiro clip da banda, que, inclusive, aparece no filme.”

No papel da mãe de Marcelo, a atriz Gisele Froes. “É impressionante como o olhar da mãe é essencial para mostrar quem a gente é”, pontua Wagner Moura. “O da personagem de Gisele é torto. Ele pergunta: ‘Me diz quem eu sou’. Ela fica olhando e diz: ‘Ah, você é assim…’, e ele rebate: ‘Assim como?’ e muda de assunto. Essa cena me arrepia, é a melhor cena do filme para mim”, completa Moura.

A participação do ator argentino Jorge D’Elia, no papel do patrão paraguaio, também foi bastante festejada, tanto por ele quanto pelo elenco e diretor. “Se eu recebesse um prêmio na Argentina, seria mais um, mas receber um prêmio aqui foi algo extraordinário”, diz o ator, que recebeu o troféu Redentor durante o Festival do Rio. “Cheguei a um lugar desconhecido e encontrei muitas pessoas. E então percebi que estava entre os melhores.” É verdade.

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