Já prevendo que você, caro leitor, vai me perguntar, ou pensar, já antecipo ao responder as três perguntas. A primeira foi, ao ler o título deste post, e você provavelmente pensou:
– Você está atrasada.
– Eu sei.
A segunda será para outros questionamentos no decorrer do texto, como:
– A Argentina faz bons filmes há muito tempo.
– Eu sei.
– A produção brasileira vai de mal a pior.
– Eu sei. Ou melhor, não sei. Talvez seja uma fase, sei lá…
Dia 20 de março fui ver “O Segredo dos Seus Olhos” (“El Secreto de Sus Ojos”), produção argentina que levou o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro. A sala de exibição do Bourbon Pompéia estava praticamente lotada.
Trata-se de um filme surpreendente, bem feito, com uma câmera que vai para a mão em momentos de tensão ou faz o olhar diegético, ou seja, mostra ao espectador o ponto de vista daquele determinado personagem, tornando a produção mais intimista. Uma história simples, não linear sobre um romance que um ex-funcionário público, Benjamín Esposito (Ricardo Darín), começa a escrever quando se aposenta sobre um caso curioso que foi arquivado e não solucionado, mas que o persegue há mais de 20 anos.
Para tanto, porém, ele recorre à bela colega de trabalho, Irene Menéndez Hastings (Soledad Villamil), sua superior e que estava à frente do assassinato brutal de uma jovem após ser estuprada.
Um dos destaques da fita escrita e dirigida por Juan José Campanella é o bom humor apurado de um personagem coadjuvante, Pablo Sandoval (Guillermo Francella), fiel escudeiro do escritor, que rouba as cenas com tiradas simples, mas capazes de quebrar a monotonia da narrativa.
Há ainda a direção de arte impecável, já que a fita se passa quando ainda se usava máquinas de escrever (e faltava a letra “A”) no lugar dos modernos computadores. E as idas e vindas no tempo têm a ajuda da maquiagem para envelhecer ou deixar os personagens mais jovens.
E qual é o sucesso de “O Segredo dos Seus Olhos”, um filme que mistura humor, cenas que mostram a paixão do argentino pelo futebol no estádio, os cafés que remetem ao clima europeu, os diálogos em forma coloquial e permeados de palavrões ditos no calor da hora que fazem a plateia se divertir? Vá ao cinema, ainda dá tempo, e confira. Você também não vai se arrepender.