Subscribe via RSS

Abraços Partidos

03 dez 2009

written by Memória Cinematográfica

Diretor espanhol Pedro Almodóvar nunca faz um filme para ficar indiferente sobre algum assunto. Basta dar uma rápida olhada em sua filmografia e estão lá as discussões sobre sexualidade, traição, viciados em drogas, as artes plásticas, o teatro, o cinema, a questão feminista, o mundo gay e por aí vai, lembrando da transgressão (oposição radical ao franquismo). E nesta lista poderiam ser vistos filmes como “Tudo Sobre Minha Mãe”, “Ata-me”, “Carne Trêmula”, “Má Educação” e o mais recente “Volver”.

Mais uma vez ele faz um filme dentro do filme. Em “Abraços Partidos” (“Los Abrazos Rotos”), estreia desta sexta-feira, 4 de dezembro, o diretor reúne uma de suas atrizes favoritas, Penélope Cruz, em seu quarto trabalho em conjunto. Aqui ela é Lena, uma aspirante a atriz que começa a fazer o filme “Garotas e Malas” (em uma declarada inspiração em “Mulheres à Beira de um Ataque de Nervos”) encomendado por seu marido, Ernesto Martel (José Luis Gómez), ao cineasta Mateo (Lluís Homar). No entanto, os dois se apaixonam e fogem para uma cidade praiana.

Nos primeiros 15 minutos da trama, Almodóvar já mostra a que veio: há cena de sexo casual e, de forma não linear, começa a contar como o cineasta, que agora se chama Harry Caine, ficou cego e por que começa a se lembrar do passado assim que fica sabendo da morte de Martel.

No momento, porém, Caine é autor de roteiros de cinema e conta com a ajuda de Judit (Blanca Portillo) e de seu filho Diego (Tamar Novas) para vender e escrever seus textos. E mais um filho tem influência sobre a trama. Isso porque Martel pede a seu filho (Rubén Ochandiano) que fique de olho na esposa. Ao mesmo tempo das filmagens, o rapaz grava o making of. E esse vídeo é um dos momentos do clímax da película de Almodóvar.

A fita é a que mais tem metalinguagem em sua filmografia, uma vez que o tempo todo vai contando como costumava filmar com Lena e as filmagens em si, além de toda a montagem efetuada anos depois. Como seu personagem diz, “as películas precisam ser terminadas, ainda que às cegas”.

Usando cores fortes, como é sua característica, Almodóvar escolhe para filmar principalmente dentro da casa de Mateo e da casa de Lena. Entre as idas e vindas do roteiro, o diretor abusa das metáforas e homenageia o cinema quando faz a cena da escada (tal como fez Henry Hathaway em “Beijo da Morte”, por exemplo), quando Lena se maquia e fica parecida com as musas Marilyn Monroe e com Audrey Hepburn. Sem contar com a cena do filme “Viagem à Itália”, de Rossellini, que passa na televisão do casal.

“Abraços Partidos” tem bom humor, mas é um drama familiar, cheio de traição, ganância, poder e é um típico filme noir, uma vez que reúne o trio de amantes, dos quais um deles é poderoso, violento e inescrupuloso, além da cena da escada, tragédia etc. Feito por um dos diretores mais consagrados do cinema mundial, o longa-metragem vale a pena ser visto e apreciado. E com certeza você não sairá indiferente do cinema, pois Pedro Almodóvar é perturbador o bastante para deixar qualquer espectador intacto após assistir a um filme seu.


Leave a comment

© 2023 Memória Cinematográfica