Depois de vencer o prêmio da Crítica, como Melhor Roteiro e Melhor Ator no 37o Festival de Cinema de Gramado, bem como ganhar o Urso de Prata de obra estreante e o prêmio Alfred Bauer (de inovação cinematográfica) no 59o Festival de Berlim deste ano, estreia na sexta, 21, apenas em São Paulo e no Rio de Janeiro, o longa-metragem uruguaio “Gigante” (“Gigante”).
Escrito e dirigido pelo estreante argentino Adrián Biniez (embora já seja premiado com curtas-metragens na Argentina e no Uruguai), o filme conta a história do grandalhão Jara (Horacio Camandule), segurança em um supermercado na capital uruguaia. Dia após dia, seu trabalho é prestar atenção aos monitores que mostram as imagens gravadas pelas câmeras de vigilância. E, em dias de folga, faz as vezes do segurança em uma boate da cidade.
No entanto, como observa os monitores durante a noite (parece “Big Brother”), período no qual o supermercado já está fechado, ele aproveita para fazer outras coisas (principalmente ouvir música pesada) e, quando amanhece e os funcionários começam a chegar, ele se dedica a observar exclusivamente uma funcionária, Julia (Leonor Svarcas), que trabalha como faxineira.
Então, ao lado do gigante Jara, e sob seu olhar subjetivo captado pelas lentes de Biniez, o espectador vai acompanhar seus dias de trabalho na sala de segurança, os momentos em que sai para seguir a moça que observa e tem amor platônico. É o momento em que a descontração vira coisa séria, vira obsessão talvez, e o espectador tem a oportunidade de conhecer como vivem o herói e a mocinha do filme, o que fazem, o que gostam, como moram.
Ao mesmo tempo em que tem coragem para tudo (enfrentar ladrão, funcionário que furta produto da prateleira etc.), ele não tem a menor cara de pau que seja para falar com a mulher por quem está apaixonado, para declarar o seu amor.
Os diálogos são raros, uma vez que a grande força da narrativa é calcada pela interpretação dos atores, pelo olhar de Camandule, pelo contraste que vai da doçura quando admira a bela até o truculento que precisa resolver algum problema no trabalho causado por algum funcionário.
“Gigante” estreou nos cinemas em Montevidéu em maio e, em junho, uma das sessões do cinema exibia a fita para uma plateia grande e silenciosa, que respeitava principalmente o silêncio do filme. Uma coisa é certa: “Gigante” é uma obra lenta, um pouco arrastada, é verdade, visto que a narrativa dá voltas e acrescenta subtramas envolvendo outros personagens, criando um clima cômico.
A direção é intimista e a história vai instigando o espectador, que tenta descobrir como Biniez vai terminar a mistura de amor e uma leve obsessão. É quando prova que sim, os brutos também amam, embora à maneira deles.