Memória Cinematográfica

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O Casamento de Romeu & Julieta

Nacional tatianna 17 março 2005

Basta que existam dois times em uma mesma cidade para que a rivalidade apareça e tome conta dos torcedores. Pode ser em São Paulo, no Rio de Janeiro, ou fora do Brasil. Onde quer que seja, sempre vão existir opiniões diferentes a respeito de um mesmo assunto.

Inspirado no conto de Mario Prata “Palmeiras, um caso de amor”, o filme “O Casamento de Romeu & Julieta”, dirigido por Bruno Barreto (“Bossa Nova”), trata do amor que pode existir entre duas pessoas que torcem para times rivais. E como o enredo tem São Paulo como ambiente, os times escolhidos são, obviamente, Corinthians e Palmeiras.

Criada pelo pai Alfredo Baragatti (Luis Gustavo), um advogado, membro do Conselho Deliberativo do clube e doente pelo Palmeiras, Julieta (Luana Piovani) é também torcedora assídua do time. Vai ao estádio assistir aos jogos, é Rainha do clube e centroavante da equipe de futebol feminina. Seu nome, na verdade, é uma homenagem aos ídolos palmeirenses Julinho e Echevarietta.

Do outro lado está Romeu (Marco Ricca), um médico oftalmologista, viúvo e líder da torcida do Corinthians, que também é fanático e vai ao estádio assistir aos jogos acompanhado pelo filho Zilinho (Leonardo Miggiorin) e pela avó Nenzica (Berta Zemel).

Mas é durante uma fatalidade que Romeu e Julieta se conhecem. Para conquistar o seu amor, Romeu não apenas finge ser palmeirense, mas estuda tudo sobre o outro time só para agradar ao fanático sogro. No entanto, mesmo sabendo sobre o clube do coração do namorado, Julieta ajuda-o a convencer o pai que é palmeirense desde criancinha. Convence tão bem, que ele se torna sócio do clube e vai a Tóquio para assistir à partida contra o time inglês Manchester United.

A história nada tem a ver com o que o escritor inglês Willian Shakespeare escreveu no século 16. A não ser o fato de se tratar de duas famílias rivais (lembrado no longa principalmente no início da cerimônia do casamento) e a cena final, na quadra do prédio onde vive Romeu.

Como a história se passa em 1999, as cenas reais não puderam ser aproveitadas, uma vez que o videotape não teria a mesma qualidade das novas cenas. Sendo assim, o diretor teve que reencenar cada jogada realizada pelos clubes naquele ano. Para isso, foram contratados jogadores de futebol parecidos com os da época. Originais mesmo são as cenas do campeonato de 1974 e os lances da final em Tóquio que aparecem na TV.

Com orçamento de pouco mais de R$ 7 milhões, o 16º filme de Bruno Barreto levou sete semanas de filmagem, mas as conversas com Mario Prata, um dos roteiristas do longa, começaram seis meses antes. A maior dificuldade para fazer “O Casamento de Romeu & Julieta”, segundo o diretor, foi encontrar o tom certo, sobretudo dos três personagens principais. “O filme tem um tom dificílimo. Foi andar no fio da navalha o tempo todo: de menos, ficava chocho, de mais ficava caricato”, diz.

O filme, na verdade, não é sobre futebol, mas sobre torcida. Por isso as câmeras não pegam os lances dos jogos, mas principalmente as reações dos fanáticos. As cenas abertas, aliás, são tiradas de documentários.

“Eu não gosto de futebol e fiz este filme para entender porque as pessoas gostam tanto”, declara. “Entendi que há uma necessidade muito grande de identidade.” As recriações ficaram muito semelhantes ao que realmente acontece dentro de uma torcida que vai ao estádio. Principalmente as canções para animar o time, as bandeiras estendidas e, claro, o desespero dos torcedores ao ver o goleiro levar um gol.

A produção ficou a cargo da irmã do diretor, Paula Barreto. Aliás, foi ela a responsável pelo tema do filme, já que ela leu o livro e logo já imaginou o longa.

O diretor conta, em entrevista coletiva realizada na última semana, que a escolha do elenco também não foi uma tarefa fácil, mas ficou muito satisfeito com a seleção. “Fui ver a Luana na peça ‘Mais uma vez amor’ e ela é camaleoa, vai dos 15 aos 70 anos. Fiquei impressionado.”

Já o italiano vivido por Luis Gustavo foi especialmente escrito para ele. São-paulino de coração, o ator afirma que muito mais que palmeirense, seu personagem odeia o Corinthians. E brinca: “Fui escolhido porque não existe um palmeirense competente para fazer o papel”. E o lance de as torcidas se odiarem, o ator acredita que houve uma certa harmonia, principalmente entre os líderes da bateria dos dois times. “O chefe da Mancha Verde estava jantando com o chefe da Gaviões da Fiel”, comenta.

Outra são-paulina convicta do elenco é a Luana. Filha de palmeirense, ela diz que costuma ir ao estádio torcer. Em sua terceira experiência no cinema (Luana fez “Supercolosso” e “O Homem que Copiava”), a atriz diz que continua sendo difícil fazer cinema porque não tem intimidade com a linguagem própria da arte. Para viver a jogadora de futebol, porém, ela teve um treinamento especial com o jogador Cláudio Adão.

Luana conta que o treinamento foi duro, principalmente porque ainda não estava definido se seria futebol de campo, praia ou salão. “Foi difícil. O Cláudio me incentivou muito. Não consigo fazer uma embaixadinha, mas mato a bola no peito, cabeceio. Hoje também entendo o que é impedimento”, brinca depois de contar também que dançou jazz por mais de 10 anos e era inevitável levantar os braços enquanto tentava jogar.

Comentários

Mais uma vez Bruno Barreto vai bem como diretor dos filmes nacionais. As cenas são bem enquadradas, o argumento é ótimo, o roteiro muito bem escrito. Luana Piovani convence como jogadora de futebol e Marco Ricca, embora palmeirense roxo, fez um corintiano pra ninguém botar defeito. Luis Gustavo arranca risadas da platéia, e embora não tenha atuado em muitos longa-metragens, faz muito bem o papel de pai palmeirense. O único porém é o excesso de palavrões… Desnecessário.

 

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