Depois do hiato de 19 anos, quando foi lançado “Indiana Jones e a Última Cruzada”, em 1989, chegou aos cinemas do mundo inteiro, dia 22 de maio, a mais nova aventura do arqueólogo: “Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal” (“Indiana Jones and the Kingdom of the Crystal Skull”). O filme, aliás, teve a sua primeira apresentação pública no Festival de Cannes, dia 18. É verdade que a aventura não tem muito o perfil dos longas-metragens exibidos no festival francês, mas há de se dizer que muita gente fez fila para conseguir um ingresso para assistir à nova produção de Steven Spielberg e George Lucas no cinema.
Embora o último filme da trilogia tenha tido a intenção de finalizar o ciclo, os produtores resolveram ressuscitar o arqueólogo mais famoso do cinema para dar mais uma chance e um gostinho de quero mais aos seus fãs. Segundo o material de divulgação para a imprensa, Spielberg contou que Harrison Ford ligou para ele e disse: “Por que não fazemos outro filme desses? Há muitos fãs querendo”. “Tive de o crédito a Harrison por dar partida a isso e a George [Lucas] por me convencer a considerar a possibilidade de pelo menos mais uma história”, diz Spielberg.
O longa se passa em 1957, durante a Guerra Fria. portanto, quando Indy (Ford) e Mac (Ray Winstone) escapam de uma complicação com soviéticos em uma base aérea. Então, ele volta para a Universidade Marshall e, enquanto dá aulas (profissão na qual atua em meio período), é demitido. A partir daí, o espectador é convidado a acompanhar o arqueólogo que, juntamente com o jovem Mutt (Shia Labeouf, de “Transformers”), vai realizar descobertas que inclui a Caveira de Cristal de Akator, um objeto de superstição e medo cujo dono pode ter poderes para dominar o mundo. No entanto, os dois terão de enfrentar os temidos russos, desta vez liderados por Irina Spalko (Cate Blanchett).
Logo no início, o espectador poderá conferir que Indiana Jones não foi desenterrado em vão. As primeiras cenas, principalmente a que revela que o prisioneiro dos russos é Indiana, são empolgantes. Os planos captados pelas lentes de Spielberg (como a cena em que é possível ver apenas a sombra do chapéu dele juntamente com a música-tema criada por John Williams são de arrepiar!
Assim como nas aventuras anteriores, “Indiana Jones e os Caçadores da Arca Perdida”, de 1981, “Indiana Jones e o Templo da Perdição”, de 1984, e “Indiana Jones e a Última Cruzada”, de 1989, neste também estão lá: russos, muita poeira, vários insetos (de formiga a escorpião), o medo de Indy de cobra, aventura, mistério, socos e tiros para todo lado, ETs, a música que não pára, além, é claro, do bom humor impresso em piadas despretensiosas e principalmente de cunho familiar.
Cate, no papel de uma vilã ucraniana, está brilhante e seu sotaque do leste europeu também é bastante convincente. Ela, aliás, diz, em uma passagem da fita, o significado de uma palavra em português e ajuda dr. Jones a encontrar o que todos procuram.
Ford continua inseparável de seu chapéu e está em plena forma. Tanto que não precisou de dublês para suas cenas (nem backprojection, ou fundo azul – técnica usada para inserir com a ajuda de computador imagens ao fundo) conforme afirmou Spielberg. E isso é possível comprovar durante as duas horas de projeção.
Já Shia LaBeouf é o mais fraco dos atores e também dos personagens. Ele interpreta um jovem rockabilly, que veste calças jeans, jaqueta de couro e arruma encrenca em uma lanchonete da cidade para livrar a cara de todos, mas não vive sem o seu pente para garantir a permanência de seu topete. Desnecessário.
Embora muitas manobras praticadas pelos personagens sejam irreais (e nem o cinema afirma que deve ser sempre real), é a verossimilhança que o público procura. Aqui, porém, há alguns problemas, principalmente geográficos, já que a trama se passa nos Estados Unidos e também no Peru, onde eles encontram pessoas da civilização maia. Essa, no entanto, viveu onde hoje está o México. Outro problema de geografia é a questão de eles irem para a Amazônia e, em pouco tempo, de carro e com ajuda de cipós (!), chegarem em algum lugar que lembra Foz do Iguaçu (e de fato é, conforme confirma o diretor a respeito das locações).
Bom, mas não podemos exigir, nesse tipo de filme que preza pela diversão (e isso, acredite, está garantido), principalmente, que tenha muitos elementos reais. Spielberg, como sabemos, prova, a cada produção, que embora ainda monte o filme do modo como faziam os primeiros técnicos (usando a moviola e não o computador) sabe fazer cinema e como fazer com que seu filme gere uma bilheteria altíssima. Querer que ele saiba sobre geografia também, aí seria exigir demais!