Memória Cinematográfica

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Cão Sem Dono

Estreia Nacional tatianna 15 junho 2007

Há uma analogia explícita em “Cão Sem Dono”, novo longa-metragem de Beto Brant e Renato Ciasca. Baseado no livro “Até o Dia em que o Cão Morreu”, de Daniel Galera, o filme tem estréia marcada para esta sexta-feira, dia 15 de junho.

O cão, neste caso, é um vira-lata, Churras, que o personagem principal encontra na rua. O outro cão sem dono (por assim dizer) é o próprio personagem, Ciro (Júlio Andrade), um recém-formado em literatura que vive as angústias de não ter planos para a vida, mas ao mesmo tempo não quer se entregar ao amor da sensual Marcela (Tainá Muller).

Enquanto ele deixa a barba por fazer, se embriaga com álcool e se entorpece com drogas, ela segue o seu caminho, mas não abre mão do seu sonho de viajar e de concretizar o sonho de ser modelo.

Com tatuagens espalhadas pelo corpo e sem rumo, Ciro vive sozinho em um apartamento bem simples, cujo quarto tem apenas um colchão no chão. A companhia para as noites de solidão, porém, não lhe falta. No entanto, ele tem um tom descompromissado, não faz questão de trocar telefone com a moça com quem passou a noite.

No prédio onde mora, o porteiro que toma conta da segurança, toma conta também de Ciro, que vez ou outra aparece cambaleando de bêbado. O porteiro, aliás, é um artista, que pinta figuras abstratas em folhas de jornal.

Embora seja formado em literatura, Ciro não consegue arrumar emprego como tradutor de russo. Até que lhe oferecem uma vaga para fazer a revisão de um livro, mas por conta do pequeno salário ele acaba recusando. Uma forma de mostrar que não está aí para nada.

A câmera de Beto Brant mostra cenas escuras e retrata o cotidiano dos personagens, como o café-da-manhã, o passeio com o cachorro, cenas de sexo calientes, encontro com os amigos, declarações de amor.

Com muitas cenas em close, Beto extrai dos seus personagens interpretações ímpares que não precisam nem de diálogos, embora eles sejam sempre bem-construídos. Trata-se de um filme denso e a trilha sonora não é contínua e entediante, de modo que não a música, mas o som do filme é bem explorado. E a maneira que Beto usa o jogo de luzes para mostrar o claro e o escuro, assim como as sombras, é brilhante.

Sem dúvida, um bom motivo para o cinema nacional se destacar e mostrar que realmente é possível fazer cinema. Basta criatividade e, claro, competência para executá-la.

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