Memória Cinematográfica

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O Homem Urso

Documentário tatianna 2 junho 2006

O urso de pelúcia, um dos primeiros brinquedos que a criança ganha, tem a docilidade que os ursos pardos não têm. O fato é que esses animais que habitam o Parque Nacional e a Reserva Katmai, na península do Alasca, nos Estados Unidos, são selvagens e não são capazes de medir as conseqüências dos seus atos.

O cineasta Timothy Treadwell, no entanto, acompanhou a vida deles durante 13 verões, acampando em seu ambiente. Por cinco anos consecutivos (de 1998 a 2003) ele filmou a sua convivência, resultando em 100 horas de filme.

Embora o pesquisador tivesse uma causa para “invadir” o território alheio, o curso natural da vida prevaleceu. Como lembrou Sven Haakanson, do Museu Alutiig de Kodiak, Timothy cruzou a tênue linha que separa os ursos dos humanos e teve o resultado esperado.

O fato de o cineasta ter insistido em forçar a convivência dos ursos com a presença humana pode ter irritado o cansado e velho urso que não conseguiu acumular a gordura necessária para hibernar ao final do verão americano.

Em 2003, Timothy e sua namorada Amie Huguenard foram devorados por um deles. Toda a gravação, então, foi entregue ao diretor alemão Werner Herzog (“O Diamante Branco”), que resultou o documentário “O Homem Urso” (“Grizzly Man”).

A fita, porém, passa longe de ser mais um programa do Discovery Channel. O personagem central, em vez de ser o urso (como foi feito recentemente em “A Marcha dos Pingüins“, que ganhou o Oscar na categoria), é o cineasta, que teve a sua vida tirada por um de seus “amigos”, que está o foco. Além da narração do diretor, que muitas vezes explica a escolha de alguma cena ou de algum comportamento de Timothy, há depoimentos de pessoas amigas e conhecidas do cineasta, que divide as opiniões sobre a causa, sobre o fato de Timothy querer viver tal como um urso.

A fotografia, de Peter Zeitlinger, é um dos pontos altos do longa. O “passeio” da câmera por sobre as montanhas da reserva oferece o brilho que um grande parque habitado apenas por ursos deve ter.

Quando Timothy conduzia os seus próprios depoimentos, é possível observar ainda sua preocupação com enquadramento. Em alguns momentos, porém, seu comportamento perturbado é colocado em destaque por Herzog. E chega a ser exaustivo em algumas seqüências, principalmente as cenas que enfatizam o amor de Timothy pelos ursos e também pelas raposas que vivem lá.

O fato é que a rica observação de Timothy é um prato cheio para quem aprecia um bom filme. “O Homem Urso” estréia nesta sexta-feira, dia 2 de junho, em circuito restrito (por exemplo, o Espaço Unibanco de Cinema, Cine Bombril, Sala UOL), mas no início do ano participou da mostra “É Tudo Verdade” e do “Festival do Rio 2005”. Ainda no ano passado, a fita foi vencedora do prêmio especial “Alfred P. Sloan”, do Sundance Film Festival.

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