Memória Cinematográfica

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O Código Da Vinci

Blockbuster tatianna 18 maio 2006

É uma polêmica. Toda a história, a filmagem, a divulgação de “O Código Da Vinci” (“The Da Vinci Code”) foram fechados. O escritor Dan Brown, quando publicou o livro, talvez não esperasse tamanha repercussão.

A obra foi traduzida para mais de 40 idiomas ao redor do mundo e vendeu 50 milhões de cópias, segundo o site oficial do autor, e está sendo esperado agora nas telas (as salas de cinema já estão vendendo os ingressos há mais de duas semanas e até o meio-dia de 16 de maio, o site Ingresso.com.br tinha vendido 7,3 mil entradas).

O lançamento mundial, porém, só acontece nesta sexta-feira, dia 19 de maio, após ser visto no Festival de Cinema de Cannes, na quarta-feira, dia 17. Nem os jornalistas especializados, que geralmente são credenciados a assistir longas-metragens previamente, tiveram acesso à fita. “Estratégia de lançamento”, justifica a assessoria da Columbia Pictures. Pode ser. O fato é que o filme será colocado em 500 salas de exibição do país e espera ser o grande longa-metragem do ano.

Nem os maiores lançamentos dos últimos anos receberam este tratamento. A imprensa não foi impedida de assistir a nenhum da série “Harry Potter” ou de “O Senhor dos Anéis”, ambos que têm a fantasia como mote (assim como “O Código”, que é ficção), e são baseados em livros. Tampouco, mais recentemente, de “King Kong”, “Missão: Impossível 3”, nem será privada de assistir, na próxima semana, a “X-Men: O Confronto Final”.

Depois de colocar a polêmia na rua, outras publicações vieram no vácuo, como “A Fraude do Código Da Vinci”, “Desmascarando O Código Da Vinci”, “Revelando O Código Da Vinci”, “Da Vinci Decodificado”, “A Verdade por Trás de O Código Da Vinci”, “Quebrando O Código Da Vinci”, entre outros. A Igreja também se manifestou contra o filme.

A trama se passa na França, na Inglaterra e na Escócia. Esta foi a primeira vez que uma equipe de filmagem trabalhou dentro do Museu do Louvre, em Paris. Para fazer as cenas, porém, o diretor Ron Howard (de “Uma Mente Brilhante”) teve de tomar alguns cuidados, como não deixar cair sangue ou outro líquido corrosivo no chão, não jogar luz sobre a Mona Lisa ou em outra obra, e apenas filmar após o Museu fechar as portas para o público.

Esta exigência obrigou a equipe de produção a reproduzir o Louvre em estúdio, uma vez que algumas cenas se passam de dia, ou quando o corpo do curador é encontrado no chão, porque foi assassinado (pontapé inicial do mistério, que envolve ainda o motivo da morte, o segredo que ele guardava a sete chaves).

Outro inconveniente de se filmar no Louvre foi por conta do peso da telas. Em uma determinada passagem, os personagens precisam retirá-las do lugar, o que seria impossível, porque além de o Museu ter impedido tal ação, elas são pesadíssimas.

A polêmica maior fica por conta do livro, que diz que Jesus Cristo não teria morrido na cruz, que teria se casado com Maria Madalena e tido um filho com ela. Outro fato é o envolvimento da Opus Dei, uma instituição que se estabeleceu com fortes raízes dentro da Igreja Católica, representada no filme por um bispo ambicioso e por um monge albino assassino.

Muito se fala também sobre o Santo Graal, que é o objeto que procuram o professor Langdon, vivido por Tom Hanks, e pela criptógrafa e neta do curador do Louvre Sophie Nevou (a francesa Audrey Tautou). Uma vez em Paris, Langdon é convocado a comparecer ao Museu do Louvre, onde o curador foi assassinado, deixando para trás um rastro de pistas e símbolos misteriosos, uma vez que se coloca como o “Homem Vitruviano, posição retratada por Da Vinci para demonstrar a harmonia das proporções humanas, conforme os pressupostos do arquiteto romano Vitrúvio, do século 1º a.C. Com a vida em jogo, Langdon descobre mensagens ocultas nas obras do famoso artista, que levam a uma sociedade secreta.

Além de Paris, os personagens seguem para Londres. Embora o livro descreva a Abadia de Westminster, a principal freqüentada pela realeza britânica, onde casaram-se o príncipe Charles e a princesa Diana, o filme foi rodado na Catedral de Lincoln, nos arredores de Londres, uma vez que os responsáveis pelo local recusaram o pedido de filmagem.

Ron Howard foi escolhido para dar vida aos polêmicos personagens neste thriller de aventura. Em entrevista, ele garantiu que o longa é muito próximo do livro. Mas quem está acostumado a ver páginas da literatura em movimento no cinema, sabe que geralmente este deixa a desejar (em Cannes, a crítica riu e apontou falhas e afirma que Howard utilizou cenas em flashback).

Talvez seja um dos maiores desafios do diretor: fugir do óbvio, mas não decepcionar os fãs do mundo todo. Uma coisa, no entanto, é garantida: ainda vai dar muito o que falar. A produção, que custou US$ 125 milhões, promete ter uma grande repercussão. Se boa ou ruim, só depois de assistir à apresentação.

Comentários

Assisti à película na noite de estréia. Sessão das 22h30, no Cinemark Tamboré. Depois de ficar quase uma hora plantada na fila para entrar, nem conseguimos um bom lugar na sala de exibição, mas também não era preciso grudar o nariz na tela, como muitos tiveram de fazer para acompanhar o “filme obrigatório”.

O que posso falar sobre o longa-metragem que tem duas horas e meia de duração? Ora, no geral, eu gostei, mas há algumas considerações.

Primeiro, não me agradou ver um dos mistérios revelados nos primeiros minutos da fita. O diretor Ron Howard poderia ter aguardado um pouco mais antes de contar ao espectador quem assassinou o curador do Louvre.

O agito então começa e a mão do diretor é um pouco pesada nas cenas de correria, como quando Sophie e Langdon fogem do Louvre e seu carro.

A adaptação, no entanto, não vai decepcionar os fãs do livro. Além de inglês (incrível como na França se fala tanto o idioma de Shakespeare, diferentemente da vida real), o longa contém diálogos em francês e italiano, uma vez que os religiosos se comunicam assim.

A trilha sonora também é incessante. O tempo todo se ouve a música de Hans Zimmer ao fundo, deixando a platéia ainda mais ligada no “caça ao tesouro”. A fuga dos personagens no hangar em Londres é de dar risada (talvez teria sido esta a cena que provocou riso na seleta platéia em Cannes). No livro, a imaginação rola solta e dá certo.

Acredito que quem não teve a oportunidade de ler o livro de Dan Brown terá mais surpresas do que aquele que decorou os diálogos e a sucessão de cenas. O mistério final, pois, já não é esperado com ansiedade, afinal já se sabe o desfecho. E nisso Howard não criou mistério.

É exatamente do mesmo modo que aparecem os créditos finais (a não ser pela falta do romance dos dois personagens centrais). A fotografia escura protagonizada pela Cidade Luz ganha ainda mais brilho nas últimas cenas. Impossível não se apaixonar ainda mais por Paris, que é fotogênica por ela mesma.

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