Hollywood está mudando os seus conceitos. Se antes cinemão era aquele cheio de ação, o estereótipo não é mais o mesmo. Das sete indicações ao Globo de Ouro (prêmio considerado a antecipação do Oscar), o longa-metragem “O Segredo de Brokeback Mountain” (“Brokeback Mountain”), baseado no conto de Annie Proulx, levou quatro: Melhor Filme Drama, Melhor Diretor, Melhor Roteiro e Melhor Canção.
Para o Oscar, a fita confirma o favoritismo e concorre a oito prêmios: Melhor Filme, Melhor Diretor, Melhor Roteiro Adaptado, Melhor Ator, Melhor Ator e Atriz Coadjuvante, Melhor Fotografia e Melhor Trilha Sonora.
Trata-se de uma história de amor, mas não é um amor comum, como costumamos ver no cinema. O filme, que estréia nesta sexta, dia 3 de fevereiro, conta a história do trabalhador rural Ennis Del Mar (o australiano Heath Ledger) e do caubói de rodeio Jack Twist (Jake Gyllenhaal, que pôde ser visto recentemente em “Soldado Anônimo“).
No verão de 1963, os dois se conhecem quando procuram emprego em Wyoming, na propriedade do fazendeiro Joe Aguirre (Randy Quaid) e conseguem um trabalho para tomarem conta das ovelhas que ficam na montanha Brokeback.
Vestindo camisa, calça jeans, chapéu, cinto com fivela grande e botas, o sotaque carregado e texano é evidente. Logo de cara os dois se dão bem e conversam sobre a família (Ennis vai se casar com a namorada quando voltar para casa). Depois que seus pais faleceram, Ennis foi criado pelos irmãos, enquanto Jack não gostava de trabalhar com o pai, por isso ficava nos rodeios.
Eis que em uma noite gelada, os dois dividem a cabana para dormir e algo de novo acontece entre eles. O amor nascia entre os dois jovens. E lá eles ficaram durante muito tempo, lavando as roupas no rio e cozinhando na fogueira. Quatro anos depois de deixar a Brokeback, Ennis, já casado e com duas filhas, recebe um cartão-postal de Jack e os dois se reencontram. A esta altura Jack está casado com a rainha do rodeio Laureen Newsome (Anne Hathaway) e tem um filho.
Durante os próximos 20 anos os dois se reencontram periodicamente e mostram que querem dividir esse amor, mas ao mesmo tempo têm medo do preconceito que possa existir. Então, eles se vêem às escondidas, geralmente entre um trabalho e outro. Mas Jack quer sempre mais e Ennis, que precisa sustentar os filhos, não pode dar tudo o que ele precisa.
Desde o começo Ennis afirma não ser homossexual, mas também não interrompe o beijo que recebe de Jack. Os dois, aliás, têm vida dupla, porque mesmo depois que se separa de Alma (Michelle William), Ennis começa a namorar uma garçonete e nem assim deixa de ver e amar Jack.
O diretor taiwanês Ang Lee (“O Tigre e o Dragão”) sabe, definitivamente, contar boas histórias. O filme é lento (tem 134 minutos) e privilegia o som natural da fogueira, do trem, das ovelhas, da espingarda usada para a caça.
A fotografia da montanha salpicada por ovelhas é especialmente bem desenhada. E as cenas de amor entre os rapazes não ofendem, ao contrário, são delicadas, bem dirigidas, uma poesia. Uma de suas exigências, porém, foi que em qualquer país por onde o filme ficasse em cartaz deveria ter, no título, as palavras “Brokeback Mountain”.
Como ele bem falou, trata-se de uma história de amor. Mas esta fala do amor que nasce entre dois homens.