É comum diretores e atores trabalharem juntos em várias produções, principalmente quando o resultado é positivo. Basta lembrar de Woody Allen e Diane Keaton e Scarlett Johansson; Paul Greengrass e Matt Damon. E vários outros. Pela sétima vez, o diretor Tim Burton escala o ator Johnny Depp para protagonizar o seu filme. Depois de “Edward, Mãos de Tesoura” (1990), “Ed Wood” (1994), “A Lenda do Cavaleiro Sem Cabeça” (1999), “A Fantástica Fábrica de Chocolate” (2005), “Sweeney Todd – O Barbeiro Demoníaco da Rua Fleet” (2007), além da animação em stop-motion “A Noiva Cadáver” (2005), no qual um dos personagens tem a voz dublada pelo ator, os dois estão juntos em mais uma produção com personagem estranho e nada convencional no longa-metragem “Alice no País das Maravilhas” (“Alice in Wonderland”), que chega aos cinemas nesta sexta-feira, 23.
No épico de aventura e fantasia, Depp é o Chapeleiro Maluco que vive no mundo subterrâneo onde Alice (Mia Wasikowska) vai parar, já adulta, quando foge do pedido de casamento, uma vez que não concorda com a aristocracia inglesa onde vive. Como já esteve no local na infância, ela reencontra os amigos Coelho Branco (com voz de Michael Sheen), os irmãos Tweedledee e Tweedledum (Matt Lucas), Domindongo (voz de Barbara Windsor), a Lagarta (voz de Alan Rickman), o Gato Risonho (voz de Stephen Fry). Durante o passeio naquele mundo, Alice terá de encontrar seu destino e acabar com o reino de terror da Rainha Vermelha (Helena Bonham Carter), que sempre ordena que a cabeça de quem quer que seja e que atrapalhe o seu caminho seja cortada, e recuperar a espada da Rainha Branca (Anne Hathaway).
Embora a história já seja conhecida, uma vez que é baseada nos livros de Lewis Carroll, o longa criado por Tim Burton apresenta um show de imagens coloridas (que poderão ser vistas nas versões 35 mm, 3D e Imax 3D, em um total de 400 cópias, sendo 80% dubladas e 20% legendadas), mas sem deixar que o visual sobreponha a história ou a interpretação competente dos atores ao vivo e das animações que se misturam com os reais.
Mesmo que a história tenha sido escrita por Carroll no final do século 19, permanece interessante até hoje, uma vez que tanto as personagens como toda a mise-en-scène mexe com a imaginação das pessoas e discute sobre amadurecimento e escolhas. Este, portanto, é um dos motivos de o conto de fadas permanecer vivo. E com a opção em três dimensões, ou seja, com o uso dos óculos especiais, o show de imagens fica ainda mais incrível.
Como não podia ser diferente, há a luta do bem contra o mal, mas mesmo as personagens boas são caricatas. Esse tipo, vale lembrar, é a especialidade da dupla Burton-Depp. O que se vê na tela, portanto, é uma reunião de esquisitices, um colorido sem fim, mas sobretudo uma história bem contada com um visual incrível.
Se Johnny Depp incorpora com destreza seu personagem, assim como Helena Bonham Carter está impagável, o mesmo não acontece com a atriz responsável pela protagonista – lhe falta carisma. E não convence o espectador, é artificial demais.
Apesar dos problemas da fita, “Alice no País das Maravilhas” tem agradado, pois já conquistou, nos Estados Unidos, a maior bilheteria de abertura (de um filme que não é sequência) de todos os tempos, arrecadando US$ 116,3 milhões. Os investimentos de marketing, obviamente, contribuem para esse buchicho (até mais que a qualidade do filme, vale dizer), e a história não vive apenas dentro da tela, mas também fora dela.