Adaptações de livro e filme estão cada vez mais comuns e mais difíceis de agradar, principalmente quando o livro já vendeu milhões de cópias no mundo todo e arrasta uma legião de fãs. Harry Potter é um fenômeno difícil de explicar. Ao contrário das continuações, o público do bruxinho cresce a cada nova produção.
O novo longa-metragem “Harry Potter e o Cálice de Fogo” (“Harry Potter and the Globet of Fire”) tem, pela primeira vez, um diretor inglês (depois do norte-americano Chris Columbus nas duas primeiras produções e do mexicano Alfonso Cuarón na terceira). E isso, acredite, fez a diferença (sem, é claro, desmerecer os demais).
O diretor Mike Newell (“O Sorriso de Mona Lisa”) conseguiu levar para a telona o espírito da história, embora teve de fazer algumas alterações para que a película não ficasse extensa. Ao todo são duas horas e meia de filmagem.
Ora tensa ora engraçada, a produção mistura suspense com amor juvenil, tiradas de sarro e dor-de-cotovelo entre adolescentes. O mix, é possível dizer, faz do quarto filme da série um dos melhores. O visual monocromático quando a hora é de tensão também pode ser observado pela opção do diretor.
E não é só a história que é melhor. Depois de quatro anos (o primeiro filme “Harry Potter e a Pedra Filosofal” estreou em 2001), pode-se dizer que os três amigos Harry Potter (Daniel Radcliffe), Hermione Granger (Emma Watson) e Ron Weasley (Rupert Grint) estão mais maduros do que nos outros episódios. E isso refletiu, nitidamente, na atuação dos três na telona.
Novamente, como no filme anterior “Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban”, o livro é muito melhor do que a película. Não só porque é possível dar asas à imaginação e deixar com que ela mande. Mas também porque há muito mais informação nas letras do que na fita.
O longa, que estréia nesta sexta, 25, um dia antes do lançamento nacional do sexto livro, “Harry Potter e o Enigma do Príncipe”, da inglesa J. K. Rowling, começa mostrando o personagem que havia fugido no último filme em forma de rato.
Pedro Pettigrew, ou Rabicho (Timothy Spall), o cara que entregou os pais de Potter a Lord Voldemort, o terror de todos os bruxos, está em uma casa ao lado de seu mestre e de Bartô Crouch Jr. (David Tennant), filho do Ministro da Magia que deveria estar morto após sua passagem por Azkaban.
Logo depois Harry tem um sonho e acorda com dor em sua cicatriz, marca deixada pelo Lord das Trevas quando sobreviveu à maldição Avadra Kendrava, que significa a morte.
O campeonato de Quadribol é o primeiro evento do qual todos participam e o que dá o pontapé inicial à trama. É durante o torneio que a Marca Negra é conjurada após 13 anos, sinal dos Comensais da Morte que seguem o líder.
No livro, porém, a explicação é exigida logo de cara sobre quem efetuou aquilo. Mas, por ter sido um flagra com o elfo doméstico e esses seres não são mencionados durante todo o longa, fica sem qualquer explicação.
Não só os elfos são suprimidos do filme, como também o movimento criado por Hermione para a sua libertação, que trabalham em Hogwarts e não recebem salário. Excluídos também são os tios e o primo de Harry que vivem na rua dos Alfeneiros.
A película é extremamente tensa no quarto ano letivo em Hogwarts. O Torneio Tribruxo começa e são escolhidos quatro campeões para competir. Eles devem passar por três tarefas, que deixam o espectador colado na poltrona, principalmente porque a personalidade de Olho-Tonto Moody (Brendan Gleeson), o novo professor de Defesa Contra a Arte das Trevas, é extremamente duvidosa. A cicatriz no rosto, o olho que pode ver através da porta e a perna bamba estão excelentes.
As escolas participantes são a francesa Beauxbatons e a búlgara Durmstrang, com seus respectivos representantes Fleur Delacour (Clémence Poésy) e do ídolo musculoso do Quadribol Vítor Krum (Stanislav Ianevski). Já Hogwarts participa com Harry Potter e Cedrico Diggory (Robert Pattinson).
Antes de o Torneio começar, os adolescentes participam do Baile de Inverno, uma tradição cumprida há muitos anos. E esta parece ser a tarefa mais difícil de cumprir. Harry é capaz de matar um dragão, mas fica tenso quando o assunto é convidar uma moça para ir ao baile. E piora um pouco mais quando precisa dançar.
O momento mais esperado com certeza é quando Lord Voldemort retorna à vida, tem o seu corpo de volta e enfrenta Harry em um duelo. Chamado de “Você-Sabe-Quem”, é interpretado por Ralph Fiennes, que recentemente pôde ser visto em “O Jardineiro Fiel”. Embora ele não tenha ganhado muitas transformações em sua fisionomia, a sua excelente interpretação já vale. E prepare o frio no estômago, porque as cenas no cemitério são fortes. E tristes.
“Aí está uma coisa que não se vê todo dia”, diz Harry em uma passagem do longa. E é verdade. O filme deve se tornar um fenômeno de bilheteria. Com certeza o melhor da série. Mesmo que não seja tão igual ao livro, é um prato cheio para quem quer se divertir e aproveitar os momentos maravilhosos que são disponibilizados na telona.