Memória Cinematográfica

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Coisa de Mulher

Nacional tatianna 29 agosto 2005

Sempre que é lançada nos cinemas uma produção nacional, os espectadores olham com desconfiança e receio sobre a história que vem pela frente. Não é à toa.

Até a década de 80 mais ou menos, criou-se um esteriótipo que filme brasileiro é sinônimo de mulher nua e palavrão. O cenário começou a se modificar em 1995, quando Carla Camurati lançou “Carlota Joaquina  Princesa do Brasil”.

Na seqüência vieram outros, como “Central do Brasil” (1998), indicado ao Oscar, “Cidade de Deus”, em 2002, e mais recentemente “Dois Filhos de Francisco – A História de Zezé di Camargo & Luciano” (2005) – quem diria, que deixou a pieguice de lado e contou a história de brasileiros na telona -, e que deve ser a maior bilheteria este ano.

Nesta sexta-feira, dia 2, estréia “Coisa de Mulher”, a primeira produção do SBT Filmes em parceria com Diler & Associados e com distribuição da Warner Bros. O longa-metragem foi escrito pelo grupo “O Grelo Falante”, composto por quatro mulheres que são conhecidas (ou gostariam de ser) como as “Cassetas de saia”, uma alusão aos componentes do “Casseta e Planeta”, programa exibido pela Rede Globo.

O longa-metragem, dirigido por Eliana Fonseca (“Eliana em O Segredo dos Golfinhos”), está longe de ser inteligente ou de retratar de fato o universo feminino. A trama gira em torno de cinco mulheres e cada uma tem uma característica caricata: Catarina (Lucília de Assis), cansada do casamento; Mônica (Suzana Abranches), a pudica que sonha em casar virgem; Dora (Carmen Frenzel), a recém-separada, aberta a novas experiências; Graça (Claudia Ventura), que larga o noivo no altar e quer vencer profissionalmente; e Mayara (Adriane Galisteu), a que quer ser mãe a qualquer custo.

Sempre prontas para discutir algum tema, Murilo (Evandro Mesquita), escritor fracassado que mantém uma coluna na revista feminina Clímax sob o pseudônimo de Cassandra, vê naquelas mulheres uma fonte inesgotável de inspiração para as suas matérias.

O roteiro se prendeu a apenas um lado das mulheres, como o amor e a transa, e deixou de escanteio algumas coisas mais importantes. Estereotipada como uma máquina de fazer sexo, a mulher é muito mais do que aquela contada no filme.

Aliás, nem a executiva que sai para trabalhar e volta para cuidar dos filhos foi mencionada. Outro problema é o fato de as cinco amigas serem covardemente traíras umas com as outras quando de trata de sexo.

A personagem Graça protagoniza cenas bizarras quando cria um boneco capaz de oferecer prazer sexual. A situação com certeza vai deixar muita gente embaraçada. Não se trata de ser pudico, mas de saber dosar o momento de falar de sexo e o de cair no ridículo.

A diretora Eliana Fonseca também participa como atriz no longa. Ela faz o papel de Loreta, a editora da revista Clímax. O estereótipo de lésbica que ela quis mostrar é forçado demais. Adriane Galisteu, em sua estréia no cinema, também é um tanto forçada, como quando deixa as lágrimas rolarem quando em TPM.

Já Evandro Mesquita, que também colaborou com o roteiro, se mostra bem à vontade e faz rir quando ele se transforma em Cassandra e depois vai ao programa de Hebe Camargo (que faz participação especial no longa). Outro personagem caricato é o advogado de Dora (Juan Alba), um metrossexual e depila o corpo todo. No streap tease que ele faz para a sua cliente, o diálogo é completamente tosco e ela sai correndo.

Algumas piadas ainda se salvam e “O Grelo Falante” mostra que pode fazer rir. O ideal, porém, seria diversificar um pouco mais a comédia de modo a fazer as pessoas rirem de situações cotidianas, que não apenas aquelas relacionadas ao sexo. Insistentes também são os trocadilhos, presentes em quase todas as cenas protagonizadas pelas meninas do “Grelo”.

Se vale a sessão da tarde? Sempre quando não se tem algo melhor pra fazer, mas em questão de cinema nacional, o Brasil ainda precisa aprender um pouco mais.

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