Um dos cinco concorrentes ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, “O Amante da Rainha” (“En Kongelig Affære”) conta a história da jovem inglesa, Carolina Matilde (Alicia Vikander), que se casou com o rei dinamarquês Christian 7º (Mikkel Boe Følsgaard), no século 18. Depois de casada, sentiu na pele o desprezo que sua majestade lhe dispensava.
O desprezo, aliás, não era gratuito; era proveniente de sua insanidade mental que, para controlá-la, contratou o médico alemão Struensee (Mads Mikkelsen, de “A Caça”).
A trama é contada de trás pra frente, quando a rainha, aparentemente exilada, escreve uma carta aos filhos contando sobre sua vida.
Como diz o nome do longa-metragem, é mais do que óbvio que o médico será o tal amante. Os indícios são dados no início. Quando Carolina se muda para o palácio real (o casamento é encomendado, como era de praxe na época), ela tem parte de seus livros ingleses censurados, já que não se pode ler sobre determinados assuntos, como o Iluminismo.
O tal médico, porém, quando vai viver com a realeza, consegue levar seus livros com ideias iluministas e Carolina pede alguns emprestados. É a afinidade de ambos que os aproxima e começa uma revolução.
Durante o Iluminismo, Rousseau queria evitar tudo o que limitava a vida pessoal, ou seja, o casamento, a religião. E o médico, do alto de sua lucidez e sabedoria, sabe o que isso significa e luta em favor das ideias iluministas. Como é o rei despreparado para governar (e faz o papel, muitas vezes, de bobo da corte), é o médico quem escreve as suas falas, e ele as pronuncia, tal como um ator, diante do conselho.
Diretor e coautor do roteiro, Nikolaj Arcel (roteiristas de “Millenium – Os Homens que Não Amavam as Mulheres”) vai construindo os personagens aos poucos, de maneira que faz com que o espectador se apegue e torça para que o desfecho seja o mais convincente possível. E é. Embora seja uma história real, Arcel vai além da direção de arte, cujos detalhes ficam gravados na memória da plateia, ao se deparar com poltronas da época de Luís XV, roupas cheias de pompas, além dos diálogos apropriados.
Rainhas já apareceram no cinema aos montes. Basta lembrar rapidamente da obra de Sophia Coppola (“Maria Antonieta“). A rainha da França é mostrada, no filme, sob o olhar da diretora, que a vê como uma garota nos dias de hoje (vide a trilha sonora rock and roll).
“O Amante da Rainha” vai além do verniz da (boa) direção de arte. Trata-se de uma história dramática, de bom gosto e que conta história pouco conhecida do reinado dinamarquês.