Países da América Latina viveram histórias políticas semelhantes, quando as referências são ditaduras e repressões. Argentina, Brasil, Chile são alguns exemplos rápidos. A cinematografia desses países também segue o mesmo ritmo, pois esses três, pelo menos, resolveram cutucar a ferida que estava há muito adormecida.
Por estarmos no Brasil, acompanhamos com frequência essas histórias, seja no cinema ou na televisão, em forma de minissérie e até mesmo em novelas. Os países vizinhos produzem filmes baseados em fatos reais, mas nem sempre eles chegam aqui – o que é sempre lamentável.
Recentemente, foi a vez de a Argentina falar, sob o olhar de uma criança, sobre a ditadura naquele país, em “Infância Clandestina”, que está atualmente em cartaz nos cinemas em São Paulo. E justamente por ser sob o olhar infantil é que emociona. Mas o filme não toca o espectador só porque trata-se de um menor de idade e sem culpa alguma, já que os militantes eram os seus pais. O filme toca a plateia porque é bem contado, bem escrito e diz algo sobre a nossa história, de alguma maneira.
Agora é a vez de o Chile contar um pouco sobre a sua ditadura nos anos 1980. Com o filme “No”, de Pablo Larrain, o espectador vai descobrir o que estava por trás da propaganda política que resultou na queda de Augusto Pinochet e como o referendo realizado a seu pedido acabou com o seu mandato em 1988.
Na trama, o jovem publicitário René Saavedra (o ator mexicano Gael Garcia Bernal, de “Ensaio Sobre a Cegueira”, “Amores Brutos”) é convidado a liderar a campanha dos líderes da oposição no referendo. Ele terá de preparar um plano audacioso, sob os olhos dos guardas do ditador, para vencer a eleição e mostrar ao povo por que eles devem votar “não” no referendo (daí o nome do filme, “No”).
De um lado, a situação, com a campanha pelo “sim”; do outro, o “não”. Cada um tinha 15 minutos diários na televisão para expor seus argumentos. Para o “sim”, o que se viu foi o destaque das “vantagens” do comunismo. Já para o “não”, os festejados atores norte-americanos se mobilizaram para também darem suas opiniões, afirmaram que para se ter eleições livres é preciso votar não, além de muitas referências à liberdade, parecendo propaganda de refrigerante.
Para o filme, o diretor Pablo Larrain utilizou uma câmera U-matic 3/4, que era muito utilizada no final da década de 1980. A intenção, é claro, é ainda dar mais realismo às imagens. E isso ele conseguiu. Há ainda a inserção de documentários de televisão chilenos da época que se confundem com as cenas de ficção do filme. “Fotografar em película ou com câmeras digitais da geração HD iria acabar com o imaginário da época. Não era o resultado que esperava”, justifica o diretor no material de divulgação para a imprensa.
Por seu belíssimo resultado, o longa-metragem, que abriu a 36ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, em outubro, recebeu o prêmio de melhor filme do público, na Mostra. A fita também foi exibida na Quinzena dos Realizadores de Cannes e foi vencedor do Prêmio da Confederação Internacional dos Cinemas de Arte (Cicae).
Embora a fita estivesse apontada para estrear no dia 21 de dezembro, o distribuidor confirmou que a estreia nos cinemas está marcada para o próximo dia 28.