Com início que lembra um documentário, dados os depoimentos de personagens para as câmeras, “Amores Imaginários” (“Les Amours Imaginaires”) não mostra, logo no início, qual é a história que vai contar. Isso porque ele não tem, em momento nenhum, a pretensão de dar lições de moral ou fazer com que o espectador sinta-se pior ou melhor com as histórias que acompanha na tela. Ao contrário.
O longa mostra algo do tipo “a vida como ela é”, em um momento de descontração, entre amigos, mas sem deixar de lado que o amor pode acontecer a qualquer momento, seja no trânsito caótico da cidade ou até mesmo em reuniões na casa de amigos em comum.
E é assim que vai se desenvolver o sentimento de dois amigos inseparáveis por uma, digamos, terceira pessoa. Ele, Francis (Xavier Dolan, que também é o diretor, roteirista e produtor da fita), e ela, Marie (Monia Chokri) veem que o amor está perto quando conhecem Nicolas (Niels Schneider), um rapaz do tipo descolado e recém-chegado a Montreal. E, por seu jeito excêntrico, sedutor, intelectual, acaba sendo exatamente o que os dois sempre buscaram.
Como era de se esperar, os três começam a fazer tudo juntos, mas, mesmo que os dois amigos compartilhem do mesmo sentimento em relação ao rapaz, não expõem o pensam. E, nesta competição, vão disputar até o presente que vão comprar de aniversário, mesmo que esta disputa não seja explícita.
Dolan, em seu segundo longa-metragem (ele tem 22 anos atualmente), sendo que o primeiro, “Eu Matei Minha Mãe”, lançado em 2009 faturou diversos prêmios, brinca com a câmera intercalando o jogo de sedução com os depoimentos de outras personagens sobre os amores, como se estivessem conversando com outros amigos, ou seja, dividindo com a plateia as tensões e a espera do tão desejado e-mail.
Uma das personagens, aliás, dá este exemplo: quando acha que ELE mandou a mensagem, vê que é alarme falso, “é só a Amazon enviando mais uma propaganda”…
Um dos problemas aqui é que em momento nenhum essa mistura será esclarecida ao espectador, de modo que as histórias paralelas possam soar desnecessárias. No entanto, é uma maneira que o diretor encontrou de demonstrar que o amor não é “arrumadinho”.
Sobre o triângulo amoroso, a fita remete, por exemplo, ao “Canções de Amor”, de Christophe Honoré, que tem como protagonista o galã francês Louis Garrel – ainda que este não seja um musical. Garrel, aliás, faz uma pequena participação no filme de Dolan.
Falado em francês canadense, “Amores Imaginários” merece destaque para o figurino estilo retrô e que também tem assinatura do diretor. A trilha sonora conta com a canção “Bang, Bang” na versão italiana assinada por Dalida.
“Amores Imaginários” expressa os sentimentos contidos de todas as partes, e a busca do amor ideal, seja ele homo ou heterossexual. A fita não chega a prender totalmente a atenção do espectador, até porque como as histórias são rasas, não há um entrosamento maior entre a plateia e os atores na tela.
Ainda assim, é capaz que alguns se identifiquem com a história que está sendo contada e perceba que todos podem ter sorte (ou azar).Com première em Cannes em 2010, “Amores Imaginários” foi indicado nas categorias “Un Certain Regard Prize” e “Regards Juenes Prize”, sendo vencedor desta segunda. Neste ano, foi indicado ao César, o “Oscar francês”, na categoria de Filme Estrangeiro.