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Balzac e a crise dos 30

Coisas da vida 7 setembro 2008

Quando tinha 29 anos, as pessoas começaram a falar que, em breve, me tornaria Balzaquiana. Aliás, antes que você se pergunte: “Quantos anos será que ela tem?”, já respondo logo: tenho 30. Ou melhor (ou será pior?), completo 31 antes de 2008 terminar.

Voltando aos 29. Quer dizer, a Balzac. Para descobrir o motivo do adjetivo, resolvi comprar o livro “A Mulher de Trinta Anos”, escrito por Honoré de Balzac no início do século 19, e começar a ler. Ainda com 29, passei duas semanas em Paris e, entre uma viagem de metrô e outra, sacava da bolsa o livreto e lia um pouco sobre a história de Julie. No entanto, como aquele romance é arrastaaaaaado, ainda não o terminei de ler, até porque a urgência dos livros acadêmicos que fazem parte da bibliografia do curso de pós-graduação é muito maior.

Em um dos trechos, Balzac escreve: “Uma mulher de trinta anos tem atrativos irresistíveis. A mulher jovem tem muitas ilusões, muita inexperiência. Uma nos instrui, a outra quer tudo aprender e acredita ter dito tudo despindo o vestido.

Pois bem, cá estou sobrevivendo aos 30, com um pé nos 31, e pouca coisa mudou na minha vida. É claro que sempre assusta quando penso no tempo que já passou, mas me anima muito mais quando olho adiante. Afinal, 30 não é 80.

Mario Prata escreveu na revista “Época” uma crônica justamente sobre a mulher de 30, “aquela que podemos encontrar na frente das escolas pegando os filhos ou num balcão de bar bebendo um chope sozinha”. Ele faz comparações entre duas mulheres, aquela que já se casou e teve filhos, e aquela que ainda não pensou nisso. E faz muitos elogios: “Elas talvez não saibam, mas são as mais bonitas das mulheres. (…) Mas o que mais me encanta nas mulheres de 30 é a independência. (…)São fortes as mulheres de 30. E não têm pressa pra nada. Sabem aonde vão chegar. E sempre chegam.”

O assunto, aliás, é recorrente tanto na vida real como na ficção. Bridget Jones viveu isso na literatura e, mais tarde, no cinema. Discutiu com moças de 30 anos como era a sua vida de solteira e as dificuldades de encontrar o par ideal, principalmente depois que já se é independente, tem-se o próprio dinheiro e sabe que pode ficar (bem) sozinha. No mínimo, sabe que o ditado “antes só que mal acompanhada” é verdade.

Carrey, personagem vivida por Sarah Jessica Parker no seriado “Sex and the City”, é outro exemplo de mulher com 30 anos que sabe muito bem o seu limite, pode viver sem um namorado, mas não abre mão de buscar um companheiro para dividir a sobremesa, o travesseiro e ter um ombro para apoiar a cabeça enquanto assiste a uma sessão no cinema.

Motivada por uma reportagem, outro dia provoquei uma discussão entre moças de 30 anos que ainda não se casaram. Na ocasião, falei para elas que não será fácil encontrar o príncipe encantado com a lista de exigências que priorizamos. Na verdade, acho que os rapazes se assustam quando percebem que se trata de moça independente, que batalha para ter seu dinheiro, tem sucesso na carreira e não aceita que ele seja diferente.

Ao mesmo tempo, com toda essa independência, ela quer que ele seja “démodé” ao ponto de abrir a porta do carro para ela entrar, dar preferência para ela entrar em uma sala ou subir a escada rolante, e que seja, sobretudo, atencioso. Um homem bem-sucedido, mas que não fique pendurado ao celular enquanto estiver em um jantar romântico; que se prontifique a carregar as suas sacolas, que seja gentil.

Comecei a ler, recentemente, “As 10 Mulheres que Você Vai Ser Antes dos 35”, de Alison James. O primeiro capítulo, “A Recém-Formada”, me irritou um pouco, principalmente porque parece que faz muuuito tempo que passei por isso. E na verdade faz mesmo, mais de 10 anos. Para não perder tempo (e não desistir de chegar até o final), pulei também o capítulo 2, “A Diva Sem Um Centavo”. Li e me concentrei em “A Abelhinha Trabalhadeira”, mas acabei pulando “A Rainha da Balada” e “A Gata Ligada no Corpinho”. Tem coisas que é melhor a gente ignorar. Enfim, cheguei no sexto capítulo, “A Camaleoa” e prossegui para o “A Garota em Crise”, “Dona do Própria Nariz”, até chegar no nono capítulo: “A Marota – Metade Mulher/Metade Garota”. O livro, há de se dizer, não é lá grande coisa, mas em alguns trechos me fez pensar, refletir e rir. Cheguei a chorar a determinada altura, principalmente quando me fez ponderar sobre o fato de o tempo estar passando, definitivamente, rápido demais.

Espero conseguir terminar de ler o livro de Balzac, mas a Alison James me deu mais uma chance. Ela escreveu, no capítulo sobre a crise, que 33 é o novo 30. “Homens e Mulheres de todo o mundo não precisam mais se tornar trintões. As pessoas se formam mais tarde, se casam mais tarde e tudo mais na vida parece acontecer um pouco mais tarde para essa geração (ou seja, a minha!). Assim, 33 é o novo 30 e 30, bem, está mais parecido com 27.” Ufa! Tenho mais três anos para ter (outra) crise.

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