Para o lançamento de seu novo filme, “Cilada.com”, o ator e roteirista Bruno Mazzeo esteve em São Paulo, juntamente com parte do elenco e o diretor José Alvarenga Jr. Em entrevista coletiva, eles comentaram sobre o longa-metragem, que teve origem no seriado “Cilada”, lançado em 2005 pelo canal a cabo Multishow.
José Alvarenga Jr, que não trabalhou como diretor no seriado, tem bastante experiência com o cinema nacional, já que dirigiu “Divã”, “Os Normais 2”, entre outros. Ele conta que, para levar o seriado da televisão para o cinema, foi necessário pegar “o que tinha de bacana no seriado e ampliar para o cinema”. “Achava que o seriado tinha uma carga emocional que não era explorada no cinema”, completa. Outra questão é que, segundo Alvarenga, no cinema é possível dizer mais coisas que na TV. “O cinema permite o que não é possível explorar na televisão. O cinema é uma escolha, a pessoa está lá para ver o filme; a televisão chega na casa da pessoa.”
Isso porque, além das piadas, já que a história se desenvolve a partir de uma traição de Bruno (Bruno Mazzeo) com a namorada Fernanda (Fernanda Paes Leme) em frente de todos os seus amigos e familiares, há o romance. Porém, como vingança, a moça resolve colocar um vídeo dele na internet em uma situação constrangedora. E na ânsia de tentar consertar a sua reputação, Bruno só aumenta o problema.
Mesmo quem nunca assistiu a um episódio na televisão, pode entender a história. E, assim com em outro seriado escrito por Bruno Mazzeo, “Junto e Misturado”, que foi ao ar no ano passado na Rede Globo, os personagens têm os mesmos nomes dos atores. O fato não cria confusão com o público? “No ‘Cilada’, tínhamos a ideia de fazer parecer uma coisa cotidiana, aproximar o seriado, misturar ficção e reality show, mas isso não rolou. Porém, o nome se manteve. No ‘Junto e Misturado’, a ideia foi parecer um bate-papo entre amigos e aproximar o público daquelas situações corriqueiras”, explica Mazzeo.
A confusão pode ser ainda maior, já que muitas de suas histórias, como ele mesmo diz, são autobiográficas ou biográfica dos amigos. “A gente vai juntando as histórias.” Segundo ele, no caso do filme, apenas uma história foi verdadeira: a da mulher bonita com bafo, protagonizada por Carol Castro. E ela garante: “Não tenho bafo!”
Fernanda Paes Leme também comentou o assunto, já que viveu recentemente uma vilã na novela “Insensato Coração”. “No Brasil, existe muito isso de a pessoa confundir a personagem com a atriz. Me chamam de Irene na rua e vêm tirar satisfação!” Já para Fabiula Nascimento, atriz que faz uma ponta no filme e que participou do seriado, afirma que gosta de ter o mesmo nome da personagem. “Pra mim foi bom, porque as pessoas me viam na rua e não sabiam quem eu era; agora me chamam de Fabiula. Obrigada, Bruno”, agradece.
Se no seriado o personagem vivido por Bruno parece ser sacana, aqui ele é humanizado. “O desafio do filme foi mostrar como um cara sacana desse jeito chega ao final com o espectador torcendo por ele?” E o próprio Bruno completa: “A questão do desafio me interessa muito. Decidi parar de fazer o seriado para fazer outras coisas”, completa ele, lembrando que atualmente o “Cilada” é reprise. “O programa está há dois anos em reprise, é o ‘Chaves’ brasileiro”, compara com bastante bom humor.
Quanto ao seriado, ele é taxativo: “O programa não volta para a TV pelo mesmo motivo pelo qual parou: necessidade de fazer outras coisas e daí a gente parte para outro”. Em breve devem ser lançados os DVDs que faltam para fechar o pacote.
Embora o filme não tenha nem estreado, a produção é otimista. Já tem a sequência do filme confirmada. “Só falta a história”, arremata Bruno. Ainda segundo ele, a segunda temporada do seriado “Junto e Misturado” ainda não está confirmada.
O filme
Depois de terminar o namoro por conta de uma traição pública, Bruno (Bruno Mazzeo) é alvo da vingança da namorada, Fernanda (Fernanda Paes Leme). E é justamente essa vingança que vai resultar o verdadeiro enredo do longa-metragem “Cilada.com”.
O problema da vingança de Fernanda é que mexe com a virilidade masculina, com a sua vaidade, já que sofre de ejaculação precoce. Porém, o vídeo se espalha com uma velocidade incrível, como é comum quando se fala da rede mundial de computadores, e Bruno pensa em um jeito de como reverter essa situação, já que caiu em uma cilada.
E é justamente a partir da ideia que recebe do amigo Sandro (Augusto Madeira), que o filme se alimenta. É a partir desse plano que surgem algumas piadas. Trata-se de uma comédia, mas também com um toque de romance. O problema é que muitas vezes a piada não funciona, é forçada, sem graça e chega ao ponto da grosseria, principalmente por conta da escatologia, de algumas serem até preconceituosas. Outro ponto negativo são as cenas previsíveis: é chato para o espectador adivinhar o que será mostrado na sequência.
Há problemas também com a direção de arte, como o banheiro diferente em duas ocasiões, e até de referências, como as moças que tomam cerveja direto da garrafa em uma festa de casamento.
Também participam do filme Carol Castro, em uma das sequências engraçadas da fita, Fabiula Nascimento, Fúlvio Stefanini, Marcos Caruso, Serjão Loroza, Dani Calabresa e Thelmo Fernandes. Além de Bruno Mazzeo, Rosana Ferrão é autora do roteiro, com colaboração de Marcelo Saback e José Alvarenga Jr.
“Cilada.com” mostra o poder da internet e o limite cada vez menor entre o privado e o público. Em muitas cenas, o filme não funciona, diferentemente do seriado, principalmente por falta de timing de comédia e por estender demais determinados assuntos, que talvez funcionasse se fosse mais rápido. Uma pena.