Memória Cinematográfica

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Lula, O Filho do Brasil

Estreia Nacional 1 janeiro 2010

No início da projeção de “Lula, O Filho do Brasil”, um aviso: “Se gostar, conte para mil pessoas. Se não gostar, não conte para ninguém”. Eu poderia não contar, mas há motivos para dizer o contrário.

A história é baseada no livro homônimo de Denise Paraná sobre a trajetória de Luiz Inácio Lula da Silva: seu nascimento, em 1945, no interior de Pernambuco, sua mudança para São Paulo feita em um pau de arara durante 13 dias e 13 noites, juntamente com a mãe e os irmãos, até se tornar presidente do Brasil.

Lula é vivido por Felipe Falanga (criança) e Guilherme Tortolio (adolescente), mas o principal, dos 18 aos 35 anos, é interpretado por Rui Ricardo Diaz, em sua estreia no cinema (leia entrevista com ele). A narrativa, porém, possui uma grande elipse. Depois que é preso nos anos 1980 durante a Ditadura Militar, o desfecho é o desfile após a posse, em 2002.

Além do modo como viveu sua família, como foi sua luta para conseguir um lugar ao sol, o filme, dirigido por Fábio Barreto (indicado ao Oscar por “O Quatrilho”), destaca sua mãe, dona Lindu, vivida na tela por Gloria Pires. Isso porque, assim como em outros lares brasileiros, ela criou os oito filhos (Lula é o sétimo) depois que deixou para trás o marido, que bebia e batia nas crianças, obrigando-os a trabalhar desde cedo, e não a estudar.

É neste drama que segue a fita filmada em Pernambuco e em São Paulo, em sete cidades e em 70 locações: como Lula saiu do sertão nordestino e chegou a Santos e depois ao ABC, onde se casou com Lurdes (Cleo Pires) e, após sua morte, conheceu sua segunda mulher, Marisa Letícia (Juliana Baroni).

É nas desgraças pelas quais passou que se apoia o drama de Barreto: fome, enchente dentro de casa, falta de assistência médica que causou a morte da sua primeira esposa, pai violento etc.

As passagens da fita mostram também o curso profissionalizante do qual Lula participou para se tornar torneiro-mecânico (e o diploma escrito Luis com “s” e não com “z” como é grafado), quando perdeu seu dedo e como começou a se politizar para lutar contra as injustiças dos patrões contra os empregados. O filme não mostra, porém, a criação do PT, sua luta como opositor até se tornar presidente – antes mesmo de ocupar outro cargo na carreira pública.

Destaques positivos devem ser considerados, principalmente no que diz respeito aos atores. A começar por Gloria Pires, que dispensa apresentações e já havia trabalhado, por exemplo, em “O Quatrilho” com Barreto. E pode-se conferir que é herança de Lindu as frases feitas e os ditados populares que Lula adora proferir. A atuação de Rui Ricardo é outro destaque positivo Ele aparece pela primeira vez em cena quando está na fábrica e seu personagem vai crescendo à medida que aumenta a atuação de Lula na política nacional. O discurso que faz em um estádio de futebol é emocionante e, se quisermos profetizar, é a sequência do longa que ficará registrada na história do cinema.

Há muita polêmica acerca de um filme sobre o presidente, principalmente por valorizá-lo, chamá-lo de herói etc. No entanto, “Lula, O Filho do Brasil” vai ficar para a história por mostrar a trajetória de um dos líderes políticos mais populares do mundo. E vale ser visto como uma obra de arte e não como uma biografia, pois há quem diga que existem muitos detalhes equivocados, passagens que não aconteceram como foram descritas nas imagens. O que conhecemos, aliás, é justamente o que não está no filme, pois ficou de fora toda a história entre 1980 e 2002.

Vale dizer que há o que chamamos de “licença poética”: cenas produzidas para fazer a ligação entre uma sequência e outra. O espectador pode opinar por ele mesmo depois de assistir ao filme com o coração aberto e pronto para ir às lágrimas.

Outra discussão é o orçamento. De acordo com os produtores, os recursos para o filme são todos provenientes de patrocinadores e não há verbas de governos ou estatais, nem patrocínios vinculados às leis de incentivo. Com apoio de empresas como Camargo Correia, Odebrecht, Volkswagen e muitas outras, o longa custou mais que qualquer outra produção nacional: R$ 16 milhões. Das produções brasileiras, o mais caro de que se tem notícia é “2 filhos de Francisco” (2005), que custou R$ 13,5 milhões nos valores de hoje, sendo 40% captados por meio de leis de incentivo.

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