Baseado em fatos que aconteceram nos anos 1920, em Los Angeles, nos Estados Unidos, o novo filme de Clint Eastwood, “A Troca” (“Changeling”), conta a história de uma mulher (Angelina Jolie) cujo filho desaparece, e ela espera, dia após dia, o seu retorno. No entanto, quando a polícia informa que encontrou o garoto, ela descobre que o menino não é o que ela perdeu. A partir de então, ela encabeça um movimento, levanta bandeira, organiza passeatas, sempre com a ajuda do reverendo (John Malkovich), de modo a ter os seus direitos garantidos.
Na época, havia uma polícia corrupta, que não resolve o problema, a faz se passar por louca – até que ela vai para o manicômio.
Eastwood, que em 2007 contou duas versões sobre a Segunda Guerra Mundial em “Cartas de Iwo Jima“, sobre o Japão, e “A Conquista da Honra”, sobre os Estados Unidos, apresenta um longa-metragem denso e consegue extrair performances bem-sucedidas dos atores quando fala sobre perda, mas sobretudo sobre coragem.
Angelina, por sua vez, pode não ser uma grande atriz, mas me parece que nesta produção ela não precisa se esforçar demais para fazer o papel de uma mãe: ela simplesmente é. (Vale lembrar que a atriz possui filhos adotivos e biológicos com Brad Pitt.)
Neste longa, ela atua como mãe, mas, para a época em que se passa a trama, trata-se de uma mulher moderna, solteira, que trabalha na companhia telefônica de Los Angeles e exerce o cargo de chefia. E foi justamente por ter ido trabalhar em um final de semana que ela perdeu o filho.
Como este é um roteiro que se passa no início do século 20, a direção de arte é competente e capaz de representar os móveis e o figurino de época. Nas ruas, o garoto toma o bonde para ir à escola e o transporte divide espaço com os fordinhos.
Eastwood aproveita para homenagear o cinema, na terra dele, quando mostra o Oscar e a United Artists. Jolie, aliás, vai assistir na telona ao filme de Charles Chaplin, que fez muito sucesso, principalmente porque o cinema ainda era silencioso (o primeiro filme sonoro foi lançado em 1929 – “O Cantor de Jazz”).
“A Troca”, que estreia nos cinemas nesta sexta, 9, é emocionante e capaz de despertar no espectador vontade de participar da luta dos personagens, já que o menino não é o único a desaparecer na redondeza. É por esse motivo, aliás, que ela consegue chamar a atenção das pessoas, que participaram, ao seu lado, de passeatas para que a polícia continuasse a busca.
No decorrer do filme, o espectador vai vivenciar momentos de apreensão e compartilhar com os personagens raiva, desprezo pelas autoridades, euforia. Ao final, o autor mostra como ficou a situação desta mãe.
“A Troca” não é o melhor filme de Eastwood. É possível que muitos achem a fita dramática demais, explorando a fragilidade do espectador, já que envolve um assunto comovente; que ele privilegia Angelina e se esquece de fazer uma direção surpreendente. É tudo verdade, mas apreciar uma obra de Eastwood, ainda que mediana, é melhor que muita coisa que estreia por aí.
Por sua atuação, Angelina Jolie recebeu indicação ao Globo de Ouro, prêmio considerado uma prévia do Oscar, que será entregue dia 11 de janeiro. Clint Eastwood, que não atua neste longa, vai concorrer ao prêmio de Melhor Trilha Sonora.