Anualmente, os fãs de Woody Allen esperam ansiosamente por mais um de seus filmes. Desde 1966, quando dirigiu “O Que Há, Tigresa?”, ele produz um filme por ano (com raríssimas ausências, é verdade). Para se ter uma ideia, seu filme de 2014, “Magia ao Luar” (“Magic in Moonlight”), nem chegou aos cinemas direito (no Brasil, estreia dia 28) e o realizador já está filmando um novo projeto que será lançado em 2015. Ainda não há nome, nem data de lançamento.
Obcecado por filmar em Nova York, onde mora com a família, ele já não encontrava financiamento para seus projetos perto de casa. Decidiu filmar na Europa em 2005, quando fez “Ponto Final – Match Point” na Inglaterra. Lá, fez ainda outros dois filmes na sequência (“Scoop – O Grande Furo” e “O Sonho de Cassandra”). Foi para a Espanha filmar “Vicky Cristina Barcelona” e só em 2009 voltou a rodar em Nova York (“Tudo Pode Dar Certo”).
Para a Big Apple ele ainda não voltou desde então. Na sequência, fez “Você Vai Conhecer o Homem dos Seus Sonhos” de novo na Inglaterra, “Meia-Noite em Paris”, na França, e “Para Roma com Amor”, na Itália. Nos Estados Unidos, em São Francisco, filmou o ótimo “Blue Jasmine” e, na estreia deste ano, a locação para seu filme voltou a ser no Velho Mundo.
Mr. Allen, aos 79 anos, escolheu o sul da França para filmar a sua nova história. E, assim como em “Meia-Noite em Paris”, ele volta no tempo e vai parar nos anos 1920, quando um mágico e ilusionista Stanley (Colin Firth, de “O Discurso do Rei”) é contratado para desmascarar uma jovem, Sophie (Emma Stone, de “Histórias Cruzadas”), que afirma ser médium. Na casa da tia dele, Vanessa (Eileen Atkins, de “As Horas”), os dois vão conversar e chegar a alguma conclusão.
Firth faz o papel de um chinês, todo caracterizado, com bigode engraçado, que se apresenta em outros países, como a Alemanha. Em meio aos jardins da região da Provença, carros antigos e roupas de época, os atores com clara diferença de idade, como é bastante comum nos filmes do realizador, deslizam por frases engraçadas, cheias de sarcasmo e ironia, característica dos diálogos de Allen.
A personagem de Emma é colocada à prova, quando o cara mais velho tenta mostrar que ela é uma garota aproveitadora e não passa de um rostinho bonito. Assim, ela precisa enfrentar a desconfiança do tal mágico e as investidas em forma de serenatas vindas do multimilionário que está tentando conquistar – puro interesse, como passa a ser óbvio.
Em “Scoop”, Woody Allen interpreta Sid Waterman, um mágico atrapalhado que se comunica com um jornalista morto para ir atrás de um serial killer. O enredo de “Magia ao Luar” é bem diferente, mas lembra alguma coisa. Aqui ele mostra que é bobagem acreditar no além, nas coisas que não se pode ver e provar.
Assim como investiu em filmes mais leves depois de “Match Point”, de “Vicky Cristina”, “Meia-Noite em Paris” ou agora, depois de “Blue Jasmine”, filme que deu a Cate Blanchett o Oscar de melhor atriz, a impressão que se tem é que o cineasta pode ter perdido um pouco a mão, que está fora de forma. Mas, conhecendo a filmografia de Allen, se tem a certeza que não dá para ser gênio o tempo inteiro. E um Woody Allen mediano, como se diz, ainda é bem melhor do que muito filme em cartaz.
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Texto originalmente publicado na GQ.