Memória Cinematográfica

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Deus da Carnificina

Estreia 31 maio 2012

Quatro personagens e apenas um cenário. Assim é “Deus da Carnificina” (“God of Carnage”), longa-metragem de Roman Polanski (“O Pianista”), que tem estreia apontada para o feriado, quinta-feira, dia 7 de junho.

O filme inicia quando os personagens estão conversando sobre um assunto que o espectador não faz ideia. São dois casais: Nancy (Kate Winslet) e Alan (Christoph Waltz), e Penelope (Jodie Foster) e Michael (John C. Reilly). Na sequência, dá-se a entender que o filho do primeiro casal arrumou briga com o filho do segundo. Nos 80 minutos nos quais o filme se desenrola, os personagens ficam dentro do apartamento de Penelope e Michael bebendo, comendo, fazendo bagunça e conversando sobre as providências que deverão ser tomadas com relação aos garotos. Do café (necessariamente espresso, como solicita o visitante) para o uísque.

No meio da confusão provocada pelos adolescentes, os pais aproveitam para espezinhar o respectivo cônjuge. O foco também muda quando as mulheres se unem para falar mal dos homens, além de falar que ao agressor falta educação. Comportamento típico de inocentes que não que­rem colocar a culpa no outro. Alfinetadas para todos os lados, humor e ironia não faltam no roteiro de Yasmina Reza, baseado na sua peça “Le Dieu du Carnage”. Peça, aliás, que também teve uma montagem brasileira com Deborah Evelyn, Julia Lemmertz, Orã Figueiredo e Paulo Betti no elenco.

Na apresentação dos personagens, é comum o espectador pensar em quais outros filmes eles atuaram. Christoph Waltz, por exemplo, que aqui é o pai de um dos garotos, não desgruda do celular e está pouco ligando para os problemas familiares, fez um nazista em “Bastardos Inglórios”. Kate Winslet ficou conhecida por sua atuação em “Titanic”, mas de lá pra cá atuou em diversos outros filmes com peso dramático.

Aqui, sua personagem é mais solta e cômica. Jodie Foster fez “O Quarto do Pânico”, em 2002, além de “O Silêncio dos Inocentes”, em 1991. Neste longa é uma mãe de família que briga com os pais de um dos colegas de escola de seu filho. Já John C. Reilly esteve em comédias como “Quase Dois Irmãos”, mas também dramas como “Precisamos Falar sobre Kevin”. O que se tem, portanto, é um elenco repleto de estrelas que dão conta do recado e entusiasmam a plateia.

O cenário único é uma forma de o diretor manter a estrutura do teatro, mas com linguagem cinematográfica, já que a câmera de Polanski aponta o lado que cada um deve olhar e prestar a atenção. O mesmo já foi feito, por exemplo, no longa de Lars von Trier, “Dogville”. Outros filmes também utilizam apenas um cenário para o desenrolar da história, de modo que daí entra a criatividade do diretor para dar movimento às cenas, e não entediar o espectador.

“Deus da Carnificina” extrai boas performances e mostra a agilidade de Polanski ao mostrar experiência no momento de não cair na monotonia e retornar à cena sempre que necessário e todas as vezes que os visitantes ameaçam ir embora. Um filme que diverte, mas ao mesmo tempo faz a plateia refletir sobre a educação dos filhos e o convívio do próprio casal, uma vez que, juntos, precisam resolver um percalço que, aliás, os garotos já esqueceram…

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