Memória Cinematográfica

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Confiar

drama Estreia 22 setembro 2011


No tempo no qual a internet não é apenas mocinha, mas também vilã, “Confiar” (“Trust”) trata justamente sobre o lado mau da rede mundial de computadores. Falar sobre relacionamentos via internet, entretanto, não é novidade. Em 1998, por exemplo, Meg Ryan e Tom Hanks protagonizaram “Mensagem pra Você” (“You’ve Got Mail”), história sobre dois adultos que se conhecem no mundo virtual e fingem ser pessoas que não são, mas de um modo meigo na comédia romântica. Treze anos depois, o diretor David Schwimmer (o Ross, do seriado “Friends”) toca no assunto de maneira um pouco diferente.

No longa-metragem, que estreia nesta sexta-feira, 23, o foco é um dos três filhos de Will (Clive Owen, de “Closer – Perto Demais”) e Lynn (Catherine Keener, de “Quero Ser John Malkovich”), a adolescente Annie (Liana Liberato). Isso porque ela ganha dos pais um computador novo e simplesmente fica viciada em sites de bate-papo. Enquanto conversa sobre o time de volêi da escola, ela faz um novo amigo pela internet: um garoto de 16 anos chamado Charlie.

Na pacata cidade onde vive, o casal se preocupa em ligar o alarme da casa todas as noites antes de dormir, travar as portas etc., mas não percebe que o problema de (falta de) segurança pode estar, de certo modo, dentro de casa.
A questão da pedofilia é tratada de modo contundente na trama, uma vez que até o FBI é envolvido na investigação. Mas a questão maior é a relacionada ao psicológico de Annie, já que ela não aceita ter sido enganada por um cara que talvez tivesse a mesma idade que ela.

Annie é uma adolescente típica, que vai para a escola, tem suas paixonites e costuma sair com as amigas, mas precisa fazer certas coisas para ser aceita em determinados grupos. Transar com o namorado pode ser uma delas, por isso fica difícil enxergar que pode estar sendo enganada por alguém que, mais do que qualquer pessoa de sua roda de amizade, lhe dá atenção e entende os seus dramas, como o fato de conseguir uma vaga no time de vôlei da escola.

E com toda a confusão que o espectador vai presenciar, está a culpa que o pai sente, além da raiva, dor, impotência e responsabilidade pelo que pode tê-lo destruído e destruído sua família. Isso porque ele acredita que não deu a atenção que a filha precisava, já que está sempre ocupado e não presta atenção onde a filha anda e com quem conversa.

“Confiar” trata de assunto que deveria ser mais discutido atualmente, haja vista que o acesso à internet pode gerar problemas que nem sempre são previstos pelos pais. A internet é um mundo sem fronteiras e, com o acesso que aumenta a cada dia, assim como a tecnologia que proporciona a aquisição de produtos cada vez mais pessoais, rápidos e que podem ser acessados de qualquer lugar, aumenta a preocupação dos pais. O que falta, no caso, é a informação e a liberdade de se poder tocar no assunto, seja na escola ou dentro de casa.

Que a família, então, seja pautada pela estreia do filme, que não tem pudor nenhum ao falar do assunto. Schwimmer trata com maestria as cenas, digamos, mais picantes. No mínimo para participar do problema comum hoje em dia, o ingresso à sessão já terá valido a pena.

André Bittencourt

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