Para contar a história de um presidiário que está tentando a sua condicional após cumprir pena de 13 anos por encobrir o assassinato dos seus avós com um incêndio, o diretor John Curran (de “O Despertar de Uma Paixão”) escalou Edward Norton para viver o primeiro personagem, e Robert De Niro para ser o oficial escalado a conceder (ou não) a tal condicional. Só pela escalação do elenco, que inclui ainda Milla Jovovich e Frances Conroy, já vale o ingresso.
No entanto, é um roteiro consistente e convincente (este escrito por Angus McLachlan) que faz falta no longa-metragem “Homens em Fúria” (“Stone”), que estreia nesta sexta-feira, dia 22 de outubro, nos cinemas.
Na primeira sequência, o filme mostra imagens do passado e choca o espectador quando apresenta um rapaz e sua esposa que, cansada de viver no silêncio, pede o divórcio, mas ele ameaça matar a filha caso ela o deixe. Depois do chacoalhão inicial, porém, o espectador pode respirar aliviado, pois nada mais forte como aquilo será repetido ao longo dos pouco mais de 100 minutos de exibição.
Frequentador da igreja aos domingos, leitor diário da Bíblia e ouvinte de salmos no rádio, Jack (De Niro) é o policial que, embora seja devoto e que não tenha cometido nenhum crime, ainda não se convenceu que merece o “reino dos céus”.
Ao contrário, porém, do prisioneiro, Stone (personagem de Norton e nome original do filme), que diz ter tido uma “epifania” e que se sente recuperado e pronto para voltar para casa e para os braços de sua esposa, a bela e sedutora Lucetta (Milla Jovovich).
A questão é que, depois da primeira entrevista entre policial e prisioneiro, os dois vão ter encontros cada vez mais frequentes e a esposa Stone será responsável por convencer Jack que seu marido está recuperado e em condições de receber sua liberdade condicional. Para tanto, como é possível de imaginar, uma vez que ela faz a típica mulher sexy e fatal, a moça vai usar de métodos, digamos, nada ortodoxos.
De acordo com as imagens, o espectador já sabe que marido e mulher estão tramando algo, ou seja, que o jeitinho meigo de Lucetta é, a princípio, armação, e que ela está tentando enganar. Mas só não se sabe por quê. Ao final, o público irá constatar que tudo foi em excesso, principalmente porque ela não é fiel nem ao marido nem ao policial.
A ideia do longa é boa e plausível. No entanto, um dos seus problemas é o excesso de clichês: o policial está prestes a se aposentar, mas prefere acompanhar alguns casos, incluindo, claro, o de Stone; tem extensa experiência no trabalho, mas vai cometer o deslize pouco antes de praticar, enfim, o golfe diário; ele é casado há mais de 40 anos, mas vai fazer besteira.
“Homens em Fúria” provoca o espetador o tempo inteiro e o faz pensar nas relações que uma cena tem com a outra. No entanto, ele não é bobo e, para ser enganado, precisa de justificativas plausíveis, e não de cenas soltas, que não se conectam e se mostram desnecessárias no decorrer da fita.