Memória Cinematográfica

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Videolocadora

Coisas da vida 22 setembro 2010

 

Outro dia eu estava pensando quando foi a última vez que entrei em uma videolocadora com prazer para pegar um filme. Comecei a fazer um retrocesso e cheguei, na verdade, na primeira locadora que entrei para alugar um filme. Ok, faz tempo. Ok, era VHS. Ok, era algum desenho e eu nem ia sozinha.

Mas depois dessas vezes na infância, me recordei que era a locadora do bairro onde meus avós moravam (e onde eu passava as tardes, já que a minha mãe saía para trabalhar), o meu passeio preferido. Primeiro porque eu nem precisava atravessar a rua; segundo, por que a minha avó me dava dinheiro para o aluguel; e terceiro, porque a menina que trabalhava era vizinha e me indicava os filmes que ela tinha visto (ou até me esprestava os que ela tirava para assistir).

Era locadora de bairro, que tinha umas cinco prateleiras divididas por assunto. Eu ficava entre a aventura, drama e o romance, passava os olhos na comédia, e nem chegava perto do terror (aliás, não chego até hoje).

Na época do VHS, quem entregava a fita rebobinada, ganhava desconto na próxima locação. O fato foi até tema de filme, o “Rebobine, Por Favor” (“Be Kind, Rewind”), do diretor francês Michel Gondry.

Lembrei também de uma época na qual a minha tia, que foi professora de história, tinha mania de gravar documentários da televisão e de comprar coleções inteiras (em VHS, claro). E foi assim que assisti aos clássicos do Charles Chaplin. Ela costumava me dizer: “Esse filme, todo jornalista é obrigado a ver”. E lá ia eu para frente da televisão ver os filmes mudos.

Depois vieram as Blockbusters da vida, e as videolocadoras de bairro foram embora. Mas foi a internet que acabou com as Blockbusters da vida e hoje não há nada que preste… ao menos no meu bairro. Aliás, aqui há três unidades que um dia foram Blockbuster e hoje atendem pelo nome de Americanas Express. O que menos se tem nas prateleiras, como era de se imaginar, são filmes para locação. É tanta bugiganga no meio do caminho, fraldas, panelas, chocolates, que fica difícil escolher o que se quer assistir. Isso, sem contar na falta de opção dos títulos.

Enquanto cursava a pós-graduação, a videoteca da escola era o melhor que se podia querer de uma locadora. Nas prateleiras, organizadas por ordem alfabética, havia VHS, DVD, clássico e lançamento. durante os dois anos, aproveitei para tirar o atraso. Quando não tinha, me dirigia até a 2001 mais próxima para escolher o título que precisava estudar. Mas o curso acabou e parei de locar – até porque não existe 2001 no meu bairro!

O saudosismo todo é porque, na semana passada, entrei em uma locadora. Essas de bairro, que são pequenas, mas têm desde os clássicos até os lançamentos, incluindo Blu-ray. Fiquei minutos lá olhando as unidades separadas por gênero e diversas opções de filmes a que eu já assisti e outros que ainda não.

Como escrevo no jornal para o qual trabalho sobre cinema e home vídeo, muitas distribuidoras me mandam os lançamentos para eu assistir. Sendo assim, tenho pouca chance de ir até uma locadora – menos ainda porque me sobra pouco tempo livre para dar conta de tudo.

O assunto todo, aliás, veio à baila porque o meu chefe começou a falar sobre seu home theater, os últimos filmes em Blu-ray que comprou e a qualidade do som que consegue extrair das caixas acústicas, além da imagem em alta definição. Com tanto conforto em casa, ele não quer saber de ir ao cinema, mas também sofre com a falta da videolocadora e nem se lembra quando foi a última vez que entrou em uma, já que ultimamente só tem comprado os filmes que quer ver.

E fiquei pensando: não alugo mais filmes nem compro Blu-ray. Uma forma de eu aproveitar  cada vez mais a experiência de ir ao cinema. Sempre.

Em tempo: Blockbuster entra com pedido de concordata.

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