Memória Cinematográfica

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Anticristo

Estreia 28 agosto 2009

Não há dúvida que Lars von Trier é um tremendo provocador. O diretor dinamarquês ficou conhecido principalmente após criar o que ele chamou de “Dogma 95”, uma série de regras que deveriam ser seguidas ao filmar, como: não usar cenários, não usar trilha sonora, não utilizar iluminação artificial, entre outras.

A primeira apresentação de seu novo (e polêmico) filme “Anticristo” (“Antichrist”) foi no Festival de Cannes, em junho. Na ocasião, ele foi atacado por jornalistas durante entrevista coletiva, principalmente por conta das cenas fortes que mostram mutilação, sexo, nu etc. Nesta sexta-feira, 28, o longa chega aos cinemas brasileiros.

Na primeira sequência de “Anticristo”, o espectador vai confirmar que Von Trier não está para brincadeira. No que ele chama de “Prólogo”, um videoclipe com uma música clássica de fundo condensa imagens belíssimas de amor do casal vivido por Willem Dafoe e Charlotte Gainsbourg, além de sexo (praticamente explícito, é verdade) e o fato que vai desencadear o tormento dos dois: a morte do único filho.

Ela, escritora, se sente culpada e ele, psicanalista, acredita que se os dois se mudarem para uma cabana na floresta chamada Éden conseguirão deixar para trás os medos e as angústias, além de poder recomeçar.

Durante o tempo todo, esses são os personagens da fita que é dividida também em “Epílogo”, “Dor”, “Luto”, “Desespero” e “Os três Mendigos”. E o espectador vai acompanhando a história que é uma mistura de tensão com arrependimento, culpa e um enjoo no estômago que não para nunca. Ao contrário, só piora.

Premiada como Melhor Atriz em Cannes, Charlotte é, de fato, a melhor coisa do longa-metragem, pois ela consegue mostrar a dor que sente, além da maldade que propõe ao marido e, sim, como era má com o pequeno.

No material de divulgação para a imprensa, Von Trier confessa que, depois de passar por uma depressão, resolveu escrever um roteiro como terapia e inserir imagens “compostas sem lógica ou função dramática”, tal como se fosse um sonho. Sobre a sequência inicial, ele diz que nunca experimentou LSD, mas a ideia é que seja “como uma viagem de ácido, sem o ácido”.

Knud Romer, que atuou em “Os Idiotas”, entrevistou Lars von Trier e lhe disse que “o filme é uma terapia, mas o terapeuta no filme não tem muito o jeito de terapeuta”. E o cineasta respondeu: “Eu gosto de brincar e provocar. (…) Os meus protagonistas masculinos são basicamente idiotas. Em ‘Anticristo‘ também. Então, é claro que as coisas dão errado!”

“Anticristo” não é um filme fácil (nem poderia ser diferente) e, portanto, é preciso um pouco mais de estômago para encarar o que ele tem a dizer. Ainda assim, há cineastas que dão o seu recado sendo subjetivo, ou seja, sem escancarar a cena do tamanho da tela do cinema para mostrar que ele tem problemas e precisa exorcizar os seus medos e angústias, compartilhando-as com o seu público. Woody Allen, por exemplo, mostra assassinatos em “Ponto Final – Match Point” e em “Sonho de Cassandra” apenas deixando o som do tiro demonstrar, sem que seja necessário colocar a cena inteira em frente às suas lentes.

E é essa a diferença crucial entre o diretor dinamarquês e este norte-americano: Lars von Trier não sabe (e não quer) ser subjetivo. Ele quer polemizar, escancarar, provocar o espectador com cenas chocantes e, é preciso dizer também, completamente desnecessárias.

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