Adaptação do livro de Martha Medeiros, que já foi adaptado no teatro, “Divã” agora estreia nos cinemas com Lília Cabral no papel principal. Dirigido por José Alvarenga Jr., o mesmo responsável por “Os Normais – O Filme”, o longa-metragem chega a partir de sexta-feira, dia 17, à tela grande. Além dela, completam o elenco José Mayer, Reynaldo Gianecchini e Cauã Reymond.
“Divã” trata da história Mercedes, uma carioca de 40 anos (ou talvez mais), que está passando pela crise da idade, e resolve procurar um analista para ver se algo está errado em sua vida.
O filme começa exatamente neste ponto. Quando ela entra no consultório do dr. Lopes (que não aparece, está sempre de costas, apenas fazendo gestos com a cabeça). Os diálogos, que na verdade são monólogos, são feitos pela protagonista que adivinha e informa ao espectador o que o especialista está dizendo/pensando.
Intercalando imagens do consultório com a própria vida, o filme vai mostrando aos poucos quem é Mercedes, o que ela faz, com o que trabalha, como vive e o que a perturba. No decorrer da fita, o espectador vai descobrir que ela é casada com o personagem interpretado por José Mayer, que geralmente não lhe dá atenção, uma vez que suas “crises acontecem sempre nas finais do futebol”. O casal está junto há mais de vinte anos e tem dois filhos. Professora de matemática, Mercedes dá aulas particulares e, nas horas vagas, se dedica às artes plásticas, sua atual vocação.
Filosofando a respeito dos desejos que tem, informa que pinta aquilo que lhe falta. Na terapia, ela também trata da morte da mãe que aconteceu quando tinha apenas oito anos. E depois ela parte para o ataque, para acabar com aquilo que lhe traz infelicidade.
Nem tudo é drama, porém. Embora o longa trate das dores de se ter 40 anos, de ter tantos anos de casado, a personagem aproveita esses percalços para fazer graça, para se livrar de alguns preconceitos e de coisas convencionais. Ao contrário. Mercedes é fora do comum.
Ao lado da amiga Mônica (Alexandra Richter), as duas comentam sobre como lidar com os respectivos maridos, por exemplo, quando eles arrumam uma amante. E é a partir dessas conversas que ocorre o desenrolar da história, que vai acompanhar a vida das duas que possuem personalidades opostas.
Um dos momentos que tenta ser engraçado (mas não consegue ser o tanto quanto deveriam) é a passagem que acontece no salão de cabeleireiros e o profissional praticamente defende uma tese do motivo pelo qual a cliente lhe pediu para repicar o cabelo. A tentativa da explicação é boa, mas faltava um pouco mais.
Outra cena que chega a dar um pouco daquela “vergonha alheia” é quando vemos a cena da boate, quando a moça vai para a balada com o garotão e começa a dançar, falar gírias sem parar, de modo que ambos pareçam ter a mesma idade. Mas um pouco mais adiante há uma cena dantesca que se passa no banheiro e chega a ser risível.
Alvarenga peca em alguns momentos, mas principalmente porque ele pincela demais, e não se aprofunda em nenhuma situação. O mesmo acontece quando Mercedes conhece Theo (Gianecchini) e Murilo (Reymond). E esse é um dos problemas do filme, que não prende a atenção do espectador.
“Divã” é uma história caricata, feita de maneira convencional, com personagens previsíveis. Lília Cabral consegue segurar a trama quando está em cena, empresta sua personalidade e sua experiência a Mercedes, mais ainda assim lhe falta algo que não foi inserido no contexto para dar a liga perfeita.