Refilmagem da produção de 1976, “O Menino da Porteira” volta aos cinemas a partir de 6 de março sob as batutas do mesmo diretor Jeremias Moreira e do produtor Moracy do Val. Em vez Sergio Reis no papel do boiadeiro Diogo, é a vez de o cantor Daniel encarar o papel e soltar a voz.
O longa-metragem é baseado na letra da música sertaneja de mesmo nome composta por Teddy Vieira e Luizinho, e conta a história de Diogo (Daniel), um peão de boiadeiro que, ao tocar a boiada do vilão Major Batista (José de Abreu, muito bom), passa pelo Sítio Remanso, onde conhece o menino Rodrigo (João Pedro Carvalho), que toma conta da porteira, pede ao moço para tocar o berrante e recebe uma moeda. No meio do caminho, ele se apaixona por Juliana (Vanessa Giácomo), filha do major.
Ambientada no interior do sudeste do Brasil, nos anos 1950, a fita foi rodada em Brotas e arredores, e no Pólo Cinematográfico de Paulínia. Do ar livre, eles aproveitaram o canto dos pássaros que fazem parte da trilha sonora. Há momentos em que a fita remete ao recém-lançado “Austrália”, e também quando o personagem diz que “boiadeiro não tem dono”.
Embora o filme seja previsível por conta do conhecimento da música, “O Menino da Porteira” surpreende positivamente o espectador, uma vez que há boas interpretações e diálogos engraçados, principalmente vindos de Rosi Campos, como Filoca, e de Antonio Edson, como Zé Coqueiro, ainda que utilize frases feitas, ditados populares.
Personagens da roça, com sotaque interiorano pra ninguém botar defeito. E a Daniel, que já teve participações em filmes da Xuxa e de Didi, lhe coube a maior parte das cenas envolvida em música, não lhe dando espaço para muitas interpretações, o que não seria o seu forte. O fato de ele cantar muito, porém, é um tanto cansativo, porque ele para o que estava fazendo para cantar, enquanto as imagens em forma de videoclipe se avançam.
Já é sabido o final da história, principalmente por conta da música, mas a forma como ela é contada na tela dá ainda mais tristeza, uma vez que que a música é lenta, a câmera se aproxima dos personagens e dá o toque emoção.
Com imagens que privilegiam cenas externas, como quando aparece a boiada inteira, o longa é uma forma de prestigiar o cinema nacional e uma boa chance de conferir o que se faz bem-feito por aqui.
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Entrevista
Jeremias Moreira e Daniel comentam em entrevista sobre o lançamento do filme
Você se inspirou em filmes de western para filmar?
Jeremias – Cresci em uma cidade do interior onde as pessoas usavam roupas que viam nos westerns americanos, por isso remete a esses filmes.
Como você se preparou para atuar?
Daniel – Foi uma honra quando recebi o convite e antes de filmar fiz mais de 20 dias de laboratório de interpretação. Aceitei o convite porque o personagem tem ligação com a terra, com o gado com o qual eu convivi na infância.
Já aprendeu a tocar o berrante?
Daniel – O boi e o gado não estão familiarizados com o berrante. Eles saem correndo. E eu estou aprendendo a tocar.
Foi difícil filmar as cenas com a boiada?
Jeremias – No filme anterior foi mais fácil, porque as pessoas estavam acostumadas a sair com a boiada. Hoje foi mais difícil no começo, porque quem estava na lida, estava na lida de fazenda. No final, a boiada já tinha se acostumado com a equipe.
Quando surgiu a ideia de refilmar o longa?
Jeremias – Em 2005, o sucesso de “Dois Filhos de Francisco” apontou positivamente para o gênero. Aconteceu tudo muito rápido. Em dezembro de 2006 saiu a liberação da Ancine (incentivo à cultura) e dois anos depois estamos com o filme pronto.
Como foi a escalação do elenco?
Jeremias – Acho que fomos muito felizes na escolha. O menino João Pedro Carvalho foi indicação de uma produtora de casting. O Daniel foi o primeiro nome que surgiu. O filme deveria ter um atrativo, porque deu certo com Sérgio Reis. O Daniel felizmente aceitou.