Memória Cinematográfica

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Austrália

Estreia Oscar 23 janeiro 2009

Nada mais justo que um diretor australiano escalar dois atores conterrâneos para contar uma história sobre seu país. “Austrália” (“Australia”) é o novo longa-metragem de Baz Luhrmann, que estreia sexta, dia 23.

Responsável por “Moulin Rouge – Amor em Vermelho”, o diretor, que também é co-roteirista, trabalha novamente ao lado de Nicole Kidman, e juntos contam a história épica sobre uma mulher, Sarah (Kidman), que sai de Londres em direção a pequena Darwin para pegar seu marido no flagra, já que descofia de uma traição. No entanto, ao chegar lá, ela precisa resolver o problema da sua propriedade, a Farway Downs, cujo administrador (David Wenham) deixa rastros sobre roubo de cabeças de gado. Com a ajuda do capataz (Hugh Jackman), a patroa se esforça para resolver o problema, ainda que tenha mais um no meio do caminho.

Isso porque o pequeno Nullah (Brandon Walters) é um mestiço (meio aborígine, meio caucasiano) que precisa se esconder dos policiais para não ser levado a um orfanato, principalmente após a morte de sua mãe.

Com locações belíssimas, principalmente quando aparece o Outback australiano (e toda a sua poeira), o longa mostra uma Nicole Kidman à vontade, sem se preocupar em disfarçar seu sotaque. Sua personagem, aliás, leva uma vida superficial, com preocupações como a roupa que irá usar (haja vista as pesadas bagagens que carrega por onde quer que passe), mas ao mesmo tempo com um coração enorme, pois, como não possui filhos, encontra no menino uma chance de ser mãe.

Hugh Jackman, que viveu o personagem Wolverine no filme “X-Men”, está igualmente à vontade e a química com Nicole funciona (ela é amiga de sua esposa). No entanto, o papel de ambos é previsível, pois quando os dois se encontram mostram repúdio e antipatia mútuos, já que o capataz não se sente à vontade por ter modos nada refinados tal como a patroa. Ele não quer mudar seu estilo de vida e deixa isso bem claro quando mostra que sendo um capataz pode ter seus próprios horários e que apenas precisa sair de um lugar, dirigir a boiada para outro e receber o pagamento, até que os dois passam a se ajudar e, novamente, o longa segue previsível, ainda que com cenas bem filmadas. É quando eles devem deslocar 1.500 cabeças de gado por uma estrada e enfrentar o inimigo, que fará de tudo para atrapalhar a negociação. Com ajuda do mago tribal misterioso, conhecido como Rei George (David Gulpilil), tudo será mais fácil.

Por falar no mago, ele é avô de Nollah e protagoniza cenas bizarras, como quando fica parado, no meio do deserto, apoiado em uma perna só, fumando um cachimbo. Cena digna do nosso Saci Pererê.

Marca registrada do diretor, “Austrália” não tem cantorias, aparentemente. Porém, Nollah aprende com seu avô que a música pode desviar boiadas, derrotar inimigos. Em uma conversa com a patroa, ela o ensina uma nova música: “Somewhere Over the Rainbow”, tema do filme “O Mágico de Oz”. Durante o longa, aliás, aparecem imagens do clássico infantil, que podem despertar a vontade de ver (ou rever) a fita.

Não há muitas cenas que se passam no Velho Mundo, apenas uma fazenda que poderia ser em qualquer lugar do planeta e as imagens do mapa que aparecem em uma espécie de animação. As cenas ficaram todas concentradas no Novo Mundo, inclusive as clássicas do deserto, os cangurus e os crocodilos (todas previsivelmente).

Com quase três horas de duração, o melodrama remete o espectador ao clássico “…E o Vento Levou”, segue arrastado e recheado de clichês, de modo que faz com que a narrativa perca o encanto. O final, digno de último capítulo da novela das oito, poderia ter sido diferente. No entanto, esta foi a opção do diretor. Cabe a você apreciar ou não.

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