Memória Cinematográfica

Memória Cinematográfica

Menu
fechar

Nine

Estreia Musical 28 janeiro 2010

Direto dos palcos da Broadway, para a tela do cinema. “Nine” é o novo musical dirigido por Rob Marshall (de “Chicago”) que estreia nesta sexta-feira, 29.

Antes de qualquer comentário, é necessário falar sobre o filme no qual este foi inspirado: “8 ½”, do italiano Federico Fellini, lançado em 1963. Inspiração, aliás, não é a palavra certa. Isso porque nesta história, com libreto de Arthur L. Kopit e canções de Maury Yeston, os personagens têm os mesmos nomes; trata-de de outra leitura sobre o mesmo tema: um diretor com um bloqueio criativo. Tema comum na vida desses artistas e, segundo confessou o próprio Fellini, trata-se de uma obra autobiográfica.

Na trama, é como se o autor tivesse ressuscitado o protagonista, Guido (aqui vivido por Daniel Day-Lewis, mas por Marcello Mastroiani no passado), um diretor de cinema que, após alguns filmes fracassados, resolve fazer uma nova produção, “Itália”, sem ter o roteiro pronto ou orçamento aprovado. Então, entra em pânico. E para resolver, conta com as mulheres da sua vida para lhe ajudarem na inspiração.

A partir de então, entra em cena o elenco estelar. Sua esposa, Luisa (Marion Cotillard), sente como é difícil lidar com suas traições e inseguranças. A amante, Carla (Penélope Cruz), é fogosa, está sempre pronta para recebê-lo. A amiga e figurinista Lilli (Judi Dench) costuma ajudá-lo nas confusões que ele mesmo cria.

A prostituta da sua infância, Saraghina (a cantora Fergie), é um arraso no primeiro contato com o sexo, mesmo que seja um streap-tease na praia. A jornalista Stephanie (Kate Hudson) o conhece durante a primeira coletiva de imprensa e o convida para um drinque. A mãe é a própria “mamma italiana” (Sophia Loren) e o acolhe nos momentos de necessidade. Claudia (Nicole Kidman) é sua musa inspiradora que titubeia ao dizer sim para participar na produção.

A cada aparição dessas personagens, um corte é feito na trama e um número musical é apresentado. Este talvez seja um dos problemas do musical, coisa que não acontecia em “Chicago”, por exemplo. As cenas não acontecem de maneira contínua.

Há algumas que começam de uma maneira e, na mesma sequência, as imagens são transportadas para o local onde acontecem as apresentações, no estúdio Cinecittà, em Roma, e ficam em preto-e-branco (outra referência ao “8 ½”?).

Ainda que os cortes sejam negativos, o espectador é presenteado com excelentes performances, que incluem interpretações musicais, danças bem coreografadas e produção digna de um espetáculo da Broadway. Neste quesito, destaque para o número de Fergie. Ela não pronuncia um diálogo sequer, mas canta muito e tem uma presença diante das câmeras arrasadora, além da dança com as cadeiras.

Destaque também para as canções de Marion que, não por acaso, ganhou o Oscar por sua atuação em “Piaf – Um Hino ao Amor”, e é capaz de mostrar com muito sentimento o seu sofrimento de um amor perdido. A amante é um show de sensualidade. Ou o movimentado musical de Kate. Tudo isso para falar também na presença indispensável de Judi, que além de tudo canta como ninguém, inclusive em francês.

No papel principal, Daniel Day-Lewis se supera ao mostrar que também é capaz de cantar. Seu personagem é atormentado, vive em crise por conta dos seus relacionamentos mal-sucedidos e toma lição de moral do médico, do cardeal e, claro, da esposa, por sua falta de moralidade. Talvez pudesse ter seu comportamento explicado pelo pai da psicanálise, Sigmund Freud. Afinal, dividem o mesmo palco a mãe, a amante, a mulher, a musa, a prostituta, a amiga, a criança que foi.

“Nine”, que tem roteiro de Anthony Minghella (morto em 2008), é um musical que mistura drama e humor. A trama toda se passa na Itália, mas os personagens escolheram o idioma universal: o inglês. A pluralidade está também nas pátrias das atrizes: há italiana, francesa, americana, australiana, espanhola, inglesa. O musical, gênero incompreendido, disputou cinco prêmios no Globo de Ouro, mas não levou nenhum.

Antes de qualquer coisa, “Nine” faz uma homenagem não apenas a Federico Fellini, o mestre do cinema italiano, mas ao próprio cinema de maneira geral. E isso já vale o ingresso.

Veja também