Para divulgar o lançamento do longa-metragem “O Homem que Desafiou o Diabo”, o elenco (com exceção de Flávia Alessandra), o diretor Moacyr Góes e o produtor Luís Carlos Barreto conversaram com a imprensa na manhã do dia 17, em São Paulo. Após a coletiva, os atores concederam entrevistas a pequenos grupos de jornalistas e, sempre à vontade, falaram sobre a participação no filme, novos projetos, cinema brasileiro.
Estreante no cinema, o ator Helder Vasconcelos, que interpreta o Diabo, diz que foi muito divertido no set durante as gravações. “A tiração de sarro foi acerca de como o Cão Miúdo é tirado de cena. O bom humor permeava tudo”, ri o ator pernambucano. Músico, Helder não se intimidou com a câmera e Marcos Palmeira foi quem mais o ajudou. “O Marcos é generoso, me ajudou muito.” O ator conta também que seu personagem usa um cajado que é seu e a caracterização era muito simples. “O mais difícil foram as lentes de contato”, completa ele.
Fernanda Paes Leme, que faz uma prostituta por quem Ojuara se apaixona, conta que nunca tinha feito um papel semelhante. “Eu já tinha realizado cenas sensuais, mas agora apareço nua e ainda tem a cena do prego, que assusta um pouco”, conta ela sobre uma das cenas mais chocantes da fita. Embora não tivesse aparecido nua na televisão antes, Fernanda foi capa da Playboy em dezembro de 2005. “É totalmente diferente. A Playboy tem uma equipe de menos de 10 pessoas, é uma foto na qual você está sozinha. No filme, você precisa estar nua, contracenar com alguém e a equipe é maior.” Sua personagem não está no livro. Conforme diz Fernanda, Genifer é uma mistura de várias outras.
Tendo participado das primeiras cenas, Lívia Falcão conta que interpretar sua personagem foi um grande prazer. “Ela representa o personagem imaginário do Nordeste: a balzaquiana encalhada, que tinha dinheiro, mas não tinha oportunidade”, comenta a atriz.
Sobre a escolha da locação, o diretor Moacyr Góes conta que o Rio Grande do Norte tem uma característica singular. “Ele é muito diverso, tem lugares à noite que você precisa estar agasalhado, como a Serra dos Martins, mas fica próximo a um lugar extremamente quente. Foi com prazer que eu mapeei a terra onde nasci”, diz. Para surpresa, quando questionado sobre o castelo onde vive Mãe de Pantanha, Moacyr conta que, quando viu o castelo, enquanto andava pelo interior, achou que estava alucinado por conta do calor. “Achei que fosse uma miragem. O castelo é a prova de que o imaginário é perfeitamente rotineiro no nordeste”, completa ele, sobre o castelo ser real e não dentro do set.
Ele conta também que escrever o roteiro, ao lado de Bráulio Tavares, deu a ele o conhecimento do material que estava dirigindo. “Me diverti muito fazendo. Eu ria e chorava enquanto escrevia. Foi a fase mais prazerosa da minha vida profissional. Este é o meu melhor filme”, conclui.
Ao completar 45 anos de produção e um total de 80 filmes, Luís Carlos Barreto conta que o lançamento da fita, que custou R$ 11 milhões, é o ideal. “Teremos 172 cópias para podermos fazer divulgação no tempo, e não no espaço. Preferimos assim para ficar mais tempo em cartaz”, argumenta ele.
“Sou fã do cinema brasileiro”
Às vésperas de ser pai, Marcos Palmeira não desligou o celular durante os 15 minutos que concedeu a entrevista ao grupo composto por quatro repórteres. Confira agora como foi o bate-papo.
Você se inspirou em alguém para compor o seu personagem?
Não. Fui buscar referências em minha infância. Grande parte dela fui criado em Itororó, uma praia próxima a Itabuna, no interior da Bahia. Parti para uma coisa bem simples e me diverti muito fazendo. E quando eu me divirto, é porque vai ter um prazer. Posso até não gostar do resultado, mas tendo o frescor, eu acho que eu gosto muito.
Mas você gostou do resultado?
Eu gostei, sim. É um filme feito em cinco semanas, mas é um filme para oito, nove semanas. Acho que é o melhor filme do Moacyr, o mais maduro dele. Acho que ele precisa fazer um filme de dez semanas, e eu já falei isso pra ele. Eu tinha feito “Dom” com ele. Foi uma experiência bacana, mas foi muito criticado. Eu me diverti me vendo e eu geralmente sou muito crítico.
Faltou alguma coisa?
Eu gosto do filme, mas acho que deveria ter mais do Zé Araújo no começo para dar uma quebrada, mas também ia ficar muito longo. As pessoas podem falar também que tem muito palavrão, tem sexo, mas naquela história combina.
O que foi mais difícil fazer: as cenas de luta ou sexo?
A mais difícil é quando eu carrego a Lívia no hotel em Natal e quase travei a coluna. Eu não me mexia.
Como era a relação de vocês no set? O Helder saiu daqui falando da sua generosidade…
A relação da gente era muito verdadeira. A gente tinha que cumprir o cronograma, eu não podia ter a coluna estourada, resfriado. No meio da cena, a gente lutava e eu ficava dando as ordens da marcação ao Helder, então foi muito de confiança. Ele poderia achar que eu era metido. A gente fez laboratório antes, trabalho de corpo, músicas do Nordeste, foi todo mundo mais macio para o set. Os meus trabalhos, se eu não tiver prazer, não consigo fazer. Não me considero uma estrela. Sou desprovido de egocentrismo.
O que você acha do atual momento do cinema?
Eu acho que falta o que sempre faltou: distribuição de mercado. Você não pode chegar a um shopping center e ter quatro filmes americanos passando e nenhum brasileiro. Tem que haver uma reserva de mercado. O Brasil tem uma história de bons filmes, mas tem muitos ruins também. O que falta é política cultural. Eu nunca vi nenhum político que entendesse a cultura como forma de transformação social, educação. Falta ao cinema brasileiro ser visto politicamente como uma coisa importante à cultura. Eu sou fã do filme brasileiro.
O que você viu e gostou?
Gostei de “O Céu de Sueli”. “O Cheiro do Ralo” não vi. Gostei muito de “Cidade de Deus”, quando vi na época. Vi o do Cláudio Assis, “Baixio da Bestas”. São filmes bons.
Qual é a sua expectativa para este novo filme?
Espero que ele tenha um bom boca a boca, e acho que pode pegar. Espero que seja um filme popular.