“À Procura de Eric” (“Looking for Eric”) foi o longa-metragem escolhido para abrir a 33a edição da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo e estreia nesta sexta-feira, dia 6 de novembro.
A fita tem dois personagens com o nome Eric e, a princípio, o espectador pode se confundir sobre qual Eric se está à procura, já que um é um carteiro (Steve Evets), que leva uma vida sem graça em algum lugar da Inglaterra (tem-se essa certeza por conta da direção invertida, do sotaque acentuado) e o outro é seu ídolo, Eric Cantona, jogador de futebol francês, que ficou famoso por vestir a camisa do Manchester United e fazer jogadas sensacionais.
Porém, à medida que o filme avança, é possível compreender o que teremos pela frente: divorciado do primeiro casamento e ainda apaixonado pela ex-esposa Lily (Stephanie Bishop), Eric atualmente vive com dois adolescentes que dão um trabalhão danado. Além do emprego, Eric ocupa seu tempo se dividindo entre os amigos também fãs de futebol e os encontra no pub, a entidade inglesa onde as pessoas vão tomar cerveja, discutir sobre a partida de futebol, falar dos problemas, ajudar os outros a resolvê-los.
Aos poucos, outros elementos vão aparecendo (inclusive as geniais jogadas de Cantona) e mostrando que Eric tem muitos problemas e é sua filha, fruto do relacionamento com Lily (de quem se separou há 30 anos), é que vai reaproximá-lo da amada. Mas não será fácil. Para tanto, Eric terá de enfrentar as suas angústias, os seus defeitos, seus erros do passado e encará-los para voltar a ser feliz.
Aliás, é Eric Cantona, vivido pelo próprio ex-jogador, que também é produtor do longa, quem vai ajudá-lo a sair do buraco (embora isso fique claro apenas ao espectador, visto que Eric fala com o pôster de Cantona pendurado em seu quarto).
E é com a pergunta: “Qual foi a última vez que você foi feliz” que ele vai se movimentar, fazer corridas para se sentir mais disposto, ajudar o enteado. Cheio de ditados populares e pronto para pronunciá-los a qualquer momento (como “Quem tem medo de jogar o dado, nunca vai tirar um seis”), Cantona é uma espécie de guru que motiva o outro Eric (e talvez o espectador) a sair da lama, a ir, de fato, em busca do seu verdadeiro eu.
Dirigida pelo inglês Ken Loach (o mesmo de “Ventos da Liberdade“, que foi exibido na Mostra em 2006), a fita apresenta o apreço pelas pessoas, é composta por diálogos bem-construídos que emocionam e com um toque essencial que mistura o bom humor e a ironia capazes de tocar a plateia. Sua câmera intimista aproxima o espectador do drama de Eric, apresenta como os amigos vão ajudá-lo nos momentos difíceis, como ele vai cuidar da netinha etc.
Embora todos esses elementos contribuam para que “À Procura de Eric” seja um grande filme, é o “happy end” que não combina com as produções autorais de Loach. Ainda assim, um dos melhores ultimamente no cinema, e reúne lições sobre amizade, autoconhecimento, solidariedade.