Parece, digamos, uma boba alegre. Mesmo nos momentos de maior tensão ela procura rir e fazer graça, ainda que esteja morrendo de raiva. E de tanta bobeira, ela faz o espectador rir também e valorizar a vida. Estou falando da personagem Poppy, vivida pela atriz Sally Hawkins, em “Simplesmente Feliz” (“Happy-Go-Lucky”), longa-metragem que estreia nesta sexta-feira, dia 27 de março, nos cinemas. Por sua atuação, aliás, ela já ganhou prêmios, como o do Festival de Berlim e o Globo de Ouro.
Na fita, que começa com ela andando de bicicleta pelas ruas de Londres, Poppy tem 30 anos, é solteira, professora do jardim da infância e mora com uma colega de quarto, Zoe (Alexis Zegerman), com quem divide as dores e as delícias de seu dia-a-dia. Aos finais de semana as duas saem para se divertir em Camden Town (bairro alternativo da capital inglesa), vão a pubs, vestem roupas chamativas e extravagantes e dão risada, principalmente.
Ao mesmo tempo que Poppy é responsável, é também desgovernada e, no início do filme, começa a frequentar a autoescola para aprender a dirigir. E é dentro do carro com o instrutor Scott (Eddie Marsan) que acontecem cenas divertidas, mas ao mesmo tempo mostram o contraponto entre os dois personagens: a divertida e alegre, e o estressado, mal-humorado e intransigente. Outra cena ao mesmo tempo engraçada e irritante é a que ela entra na livraria e tenta chamar a atenção do carrancudo vendedor. Chega a dar nos nervos!
Para aliviar o estresse do cotidiano, faz aulas de cama elástica (o que mostra como é descontraída e alegre, alto-astral, pra cima!) e dança flamenco (com toda a sensualidade e profundidade que mostra a professora espanhola). Ela, aliás, faz comparações entre a Espanha e a Inglaterra que são de tirar o espectador do sério.
Ainda que se mostre feliz com a vida que leva e tente mudar o que não gosta (como aprender a dirigir, já que lhe roubaram a bicicleta na primeira sequência do longa), é o namorado perfeito que ela procura. Neste quesito, a fita é previsível, contudo mostra aquilo que, principalmente as moças da sessão, procuram ver. E a cena final é fácil de adivinhar, ainda que seja uma grande metáfora.
Dirigido pelo inglês Mike Leigh (de “O Segredo de Vera Drake”), “Simplesmente Feliz” é o tipo de filme que pode facilmente frequentar as sessões da tarde da televisão. No entanto, possui um incremento que consiste nos diálogos bem-construídos, na direção impecável de Leigh, na interpretação ímpar de Sally e no espírito jovem e divertido que o conjunto transmite. É certo, pois, que o lançamento vai agradar mais às moças, tal como “Watchmen” é para o paladar dos rapazes. O inverso, porém, também pode funcionar em ambos os casos.