Memória Cinematográfica

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Leon Cakoff

cinema Mostra 14 outubro 2011

Fundador da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, Leon Cakoff faleu às 13h desta sexta-feira, dia 14 de outubro. Cakoff, que começou a carreira como jornalista e crítico de cinema, estava internado há duas semanas por conta do câncer no tecido epitelial.

A Associação Brasileira dos Críticos de Cinema (Abraccine) divulgou nota de pesar. “Pela importância da Mostra em nossas vidas, a Abraccine sente-se enlutada e envia sinceros votos de condolências à sua família, com a certeza de que sua memória permanecerá presente e forte nos que aprenderam a entender o cinema como arte muito mais diversa e mundial. Tudo faremos para contribuir com a continuidade do seu importante legado cultural.”

Segundo a nota, “muitos dos críticos que hoje atuam nos jornais, revistas e espaços digitais optaram por este ofício e ampliaram seu amor pelo cinema assistindo aos filmes programados por Leon Cakoff. Cakoff lutou como poucos pelo que lutamos todos nós, críticos de cinema: para que a diversidade da cinematografia mundial tenha oportunidade de exibição e não seja engolfada pelo cinema mainstream, com seu poder econômico e vocação hegemônica”.

A ministra da Cultura, Ana de Hollanda, também lamentou a morte de Leon Cakoff. “Estou chocada, é uma perda irreparável. Em toda minha vida e formação, ele foi nome de referência. Acompanhei as suas mostras, ele orientava  para o que havia de mais importante no cinema do mundo todo.”

Cakoff

Nascido na Síria, em 12 de junho de 1948, Leon Chadarevian veio com a família para o Brasil aos oito anos de idade e formou-se pela Escola de Sociologia e Política de São Paulo. Por problemas com o regime militar, adotou o pseudônimo Cakoff, que nunca mais abandonou.

Além de ter lutado contra a Ditadura Militar, foi sua atuação no cinema que mais marcou seus trabalhos, principalmente porque, a partir de 1974, dirigiu o Departamento de Cinema do Museu de Arte de São Paulo (Masp) e iniciou a programação de mostras e ciclos no museu.

Em 1977, para comemorar os 30 anos do Masp, criou a 1ª Mostra Internacional de Cinema, com 16 longas e 7 curtas brasileiros e internacionais. No dia 21 de outubro, começa a 35ª edição da Mostra, que, desde a 13ª edição, é dirigida ao lado Renata de Almeida, esposa de Leon. Os dois foram casados durante 22 anos e tiveram dois filhos, Jonas e Thiago. Leon também deixou dois filhos de seu primeiro casamento, Pedro e Laura.

Sua colaboração com o cinema veio mais fortemente contra a censura imposta pelo regime militar, já que ele trazia filmes até por meio de malas diplomáticas de embaixadas e consulados. Foi assim que a Mostra exibiu filmes inéditos vindos da China, Cuba, União Soviética, França e dos mais distantes países.

Mostra

Ao longo dos 35 anos de Mostra, Leon introduziu no Brasil o cinema de grandes autores que de outra forma não teriam chegado ao público nacional, como Manoel de Oliveira, o cineasta mais velho do mundo em atividade, hoje com 102 anos, de quem a Mostra apresentou regularmente os filmes a partir de “Amor de Perdição” (1979, na 3ª Mostra); o iraniano Abbas Kiarostami, diretor de “Gosto de Cereja” e “Cópia Fiel”; e o israelense Amos Gitai, diretor de “Kadosh” e “Alila”.

Leon Cakoff também foi o produtor de importantes projetos que reuniram grandes diretores. Em 2004, organizou e lançou na 28ª Mostra o filme “Bem-Vindo a São Paulo”, reunião de curtas sobre a cidade dirigidos por 12 cineastas, entre eles Caetano Veloso, Phillip Noyce, Maria de Medeiros, Daniela Thomas, Amos Gitai e Tsai Ming-Liang.

Foi também o produtor de “O Mundo Invisível”, filme inédito que reúne curtas de Manoel de Oliveira, Wim Wenders e Atom Egoyan, que terá exibição na 35ª Mostra. Leon dirigiu ainda os curtas “Volte Sempre Abbas” (1999) e “Natureza-Morta” (2004), ambos em parceria com Renata de Almeida, e “Esperando Abbas” (2004).

Como escritor, é autor dos livros “Gabriel Figueroa – O Mestre do Olhar”, “Ainda Temos Tempo” com crônicas de viagem ligadas a cinema; “Cinema Sem Fim”, com a história dos 30 anos da Mostra; e “Manoel de Oliveira”, uma grande entrevista sua com o cineasta português.

Além de programador e produtor, Leon também atuou nas outras pontas do mercado cinematográfico. Em 2000, junto com Adhemar Oliveira, Patrícia Durães e Renata de Almeida, formou a distribuidora Mais Filmes, especializada em filmes de autor.

Nos últimos anos, mantinha, com Renata de Almeida, a Filmes da Mostra, que lança filmes em cinema e coleções em DVD, em parceria com a Livraria Cultura. Com Adhemar, ele era sócio desde 2001 do Unibanco Arteplex, primeiro cinema do Brasil a usar o conceito de multiplex para incluir filmes de arte da programação.

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