Uma história sobre convivência em família, sobre decisões. Esses são os temas centrais do longa-metragem “A Família Savage” (“The Savages”), que estréia nos cinemas de São Paulo nesta sexta-feira, dia 28 de março, após receber uma indicação ao Oscar de Melhor Atriz. O filme, aliás, estreou na semana passada no Rio de Janeiro e teve sessões de pré-estréia por aqui.
Com estrutura conturbada, a família Savage, composta pelo professor universitário Jon (o sempre ótimo Philip Seymour Hoffman, que está atualmente em cartaz no longa “Jogos do Poder“), sua irmã e dramaturga Wendy (Laura Linney, indicada ao Oscar por este filme), mulher na faixa dos 40 anos que tem um namorado casado, e o pai dos dois, Lenny (Philip Bosco), que está sendo mandado embora de casa, já que vivia com a namorada e ela falece de repente.
Os dois irmãos, que têm vidas malucas de pesquisadores, ganham pouco dinheiro e moram um em Buffalo e outro em Nova York, não têm tempo para nada e precisam resolver o percalço inesperado. Como se tudo isso não fosse suficiente, o pai está com problemas de demência e terá de ser internado em uma casa de repouso.
Daí para frente, a trama desenrola-se de maneira triste, mas ao mesmo tempo engraçada, pois os irmãos terão de viver sob o mesmo teto, conviver com os seus defeitos e virtudes em prol do bem-estar do pai.
A diretora e roteirista Tamara Jenkins conta, no material de divulgação do filme, que vê semelhança entre os seus personagens e os do conto “João e Maria”, principalmente após ler “A Psicanálise dos Contos de Fadas”, de Bruno Bettelheim. Ela explica que “João e Maria” é uma “história de crianças confrontando-se pela primeira vez com a mortalidade, que são rejeitados pelos pais, largados no bosque e forçados a encontrar seu próprio caminho”.
“Comecei, então, a enxergar Wendy e Jon como uma versão moderna e de meia-idade de ‘João e Maria’, um irmão e uma irmã forçados a encarar uma jornada”, destaca.
O filme começa de uma maneira e termina de outra totalmente diferente, de modo que os personagens vão se fortalecendo a cada conflito, se humanizando e mostrando ao espectador que são normais, e o que aconteceu com eles poderia acontecer em qualquer outra família.
Outro detalhe é que os irmãos terão de aturar, mesmo depois de velhos, as imposições do pai autoritário, que não perde a mania de mandar, mesmo estando em um asilo.
O personagem vivido por Philip Seymour Hoffman também mostra suas fragilidades, quando demonstra que está sentindo falta da namorada polonesa.
Um dos problemas da fita é o fato de ela tratar de velhice, doenças psicológicas e o drama familiar que os personagens vivem e que podem gerar um certo desconforto na comunicação com o público, se este não estiver preparado para o assunto. Outro detalhe, é que, de certa forma, há um momento em que o enredo se arrasta, mesmo que a projeção não tenha mais que duas horas de duração.
A direção intimista de Tamara Jenkins, em seu segundo longa-metragem, é impecável, apresenta de modo ímpar as reações de todos os personagens, situa o espectador e é capaz de mostrar as cenas com câmeras bem posicionadas, ou seja, essas coisas que só bons profissionais são capazes de fazer.